quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O MUNDO ESPIRITUAL

Introdução:

Quando Joana d’Arc, a donzela de Orleães, era submetida a um daqueles terríveis interrogatórios que a História registrou, no curso do processo da sua condenação, movida pela chamada Santa Inquisição, na França, um dos seus mais encarniçados verdugos, ou juízes, justamente o Bispo de Beauvais, fez-lhe esta pergunta ardilosa, tentando confundi-la:

"São Miguel te aparece desnudo?..." – pois se sabe que um dos Espíritos que a assistiam era por ela mesma considerada como sendo aquele santo da Igreja Católica, uma das imagens que ela se habituara, desde a infância, a ver e a venerar na pequena igreja da aldeia de Domremy, seu berço natal.

Prontamente respondeu a donzela com outra interrogação, mas tão profunda, tão sutil e complexa que não a poderia ter compreendido a crueldade do estreito cérebro dos seus algozes, mas que a posteridade, nos dias atuais, devidamente compreende e explica à luz dos estudos transcendentais feitos pela Terceira Revelação, ou Espiritismo:

"Pensas que Deus não tem com que vesti-lo?..." – respondeu Joana. (Do Livro "Devassando o Invisível – Yvonne . Pereira Cap. II).

O Universo tem três elementos fundamentais: o Primeiro é Deus, Criador, Legislador e Lei do Universo; o segundo é o princípio material, do qual derivam toda a matéria, as energias, os fluidos, as vibrações, em todos os planos (material e espiritual), enfim, deste princípio deriva toda a natureza (Criação Divina); o terceiro é o princípio inteligente, que dá estruturação e evolução ao princípio material, seguindo a Lei Divina ou Natural. O espírito é individualizado do princípio inteligente evoluído. Tudo o que não for princípio material, matéria ou Deus é oriundo do princípio inteligente. O princípio inteligente garante a evolução universal, estabelecendo o único determinismo existente na Lei Divina: a necessidade inexorável da evolução.

O princípio material pode ser classificado como o Fluído Universal (que em algumas obras também é denominado de Fluido Cósmico Universal), elemento primitivo do qual derivam todos os demais elementos materiais, energéticos, fluídicos e vibratórios do universo (tanto no plano material quanto no plano espiritual). Esse elemento primitivo, em seu estado puro, "... desempenha o papel de intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita, por esta ser demais grosseira para que o Espírito possa exercer ação sobre ela...".

É importante ainda relembrar que o plano espiritual não é uma abstração, mas sim um componente da natureza, tal como o plano material. Os dois planos têm existência real, com vida de relação, interação e evolução, apenas em vibrações (dimensões) diferentes, onde as Leis naturais estabelecem o funcionamento específico daquele plano, com suas "leis físicas" apropriadas.

Outro fator a ser relembrado é a existência do perispírito, definido como envoltório ou "corpo sutil" do espírito, quase uma semimatéria, que dá ao espírito (ou inteligência) um limite e um instrumento de relação com a natureza, que mesmo no plano espiritual também tem existência real (ou "material"). O espírito necessita do perispírito para que possa agir sobre a natureza, pois o espírito deriva de um princípio (o princípio inteligente) e a natureza deriva de outro (o princípio material), necessitando assim de um elemento intermediário que possa fazer a "ponte" entre os dois princípios, permitindo ao espírito uma vida de relação, de modo a cumprir assim um dos papéis para qual o espírito foi criado: o de auxiliar na transformação da natureza. O perispírito é formado automaticamente pelo espírito, sendo derivado do Fluido Universal e dos fluídos e energias do local onde o espírito se encontre.

Como o Fluido Universal é um elemento comum ao perispírito e a natureza, existe a possibilidade de forte interação entre estes elementos. O Fluido Universal, por ser o elemento gerador na natureza, sob a organização estruturadora do princípio inteligente, é flexível a impulsão do pensamento e da vontade, pois só isto poderia explicar a organização do Universo e a formação de todos os elementos químicos, pois sem a organização inteligente, o universo se constituiria numa contínua expansão do princípio fundamental.

Pode-se afirmar que o pensamento e a vontade, mesma que oriunda do automatismo funcional do espírito, impacta sobre o Fluido Universal, estruturando este para atender as necessidades do princípio inteligente ou do espírito propriamente dito. Isso explica, por exemplo, a existência dos locais denominados como "umbrais", onde se reúnem, por afinidade vibratória e consciêncial, espíritos sofredores, que estabelecem para sim um local (natureza) condizente com o estado em que se encontram, moldando ou "plasmando" verdadeiros "vales de suplício", pela manipulação inconsciente do Fluido Universal, que modifica suas qualidades e propriedades sob a orientação da vontade e do pensamento. Esses locais têm existência real, ou seja, são verdadeiramente "criados" a partir do Fluido Universal.

Fica fácil deduzir que outras necessidades básicas dos espíritos são supridas pela ação consciente (intencional) ou inconsciente (automática) da inteligência, da vontade, do pensamento. Por exemplo, a vestimenta dos espíritos é plasmada pelo próprio espírito a partir do Fluido Universal, pela ação de seu pensamento. Isso se pode dar de maneira automática, por exemplo, de um espírito que se vê e se apresenta com a roupa com que foi enterrado, por estar ainda fortemente ligado as impressões do túmulo ou do pós-morte. Ou de maneira intencional, de um espírito que se apresenta a médiuns videntes ou se materializa com roupas semelhantes a que utiliza em vida, apenas para facilitar seu reconhecimento. A própria aparência "física" do espírito pode sofrer a manipulação inconsciente do Fluido Universal, que altera a "forma" do perispírito, fazendo com que o espírito se apresente "mutilado" ou "desfigurado" por exemplo; pode ser também alterado conscientemente, para dar a aparência que o espírito "deseje" ser visto.

De acordo com seu grau de evolução e conhecimento, o espírito pode utilizar-se do fluido Universal para obter objetos, estruturas, locais, etc. Em estágios mais avançados da evolução, a manipulação do Fluido Universal pelos espíritos ajuda na própria evolução do Universo, na criação de mundos, galáxia, etc. Pode-se afirmar que, guardada as limitações oriundas da evolução e conhecimento do espírito, o Fluido Universal é o "material de construção" dos espíritos, material este que apresenta características singulares de maleabilidade, compressibilidade, expansibilidade, flexibilidade, podendo adquirir formas, texturas, cores e propriedades das mais diversas, sempre sob o domínio do pensamento e da vontade, que são as verdadeiras "ferramentas" dos espíritos.

A esse respeito, reproduzimos a seguir o que está colocado no livro A Gênese: "... No estado de eterização, o fluido cósmico não é uniforme; sem deixar de ser etéreo, sofre modificações tão variadas em gênero e mais numerosas talvez do que no estado de matéria tangível. Essas modificações constituem fluidos distintos que, embora procedentes do mesmo princípio, são dotados de propriedades especiais e dão lugar aos fenômenos peculiares ao mundo invisível. Dentro da relatividade de tudo, esses fluidos têm para os Espíritos, que também são fluídicos, uma aparência tão material, quanto a dos objetos tangíveis para os encarnados e são, para eles, o que são para nós as substâncias do mundo terrestre. Eles os elaboram e combinam para produzirem determinados efeitos, como fazem os homens com os seus materiais, ainda que por processos diferentes. Lá, porém, como neste mundo, somente aos Espíritos mais esclarecidos é dado compreender o papel que desempenham os elementos constitutivos do mundo onde eles se acham. Os ignorantes do mundo invisível são tão incapazes de explicar a si mesmos os fenômenos a que assistem e para os quais muitas vezes concorrem maquinalmente, como os ignorantes da Terra o são para explicar os efeitos da luz ou da eletricidade, para dizer de que modo é que vêem e escutam."".

Da mesma forma, os espíritos podem utilizar-se do Fluido Universal para saturar a "matéria física" (do nosso plano), mudar-lhe a característica e propriedade, em caráter temporário e até mesmo permanente. O próprio Jesus utilizou-se de um fenômeno deste tipo, ao transformar a água em vinho, o que nada teve de "miraculoso", mas sim uma demonstração da imensa capacidade do pensamento do Mestre, que utilizou a sua vontade para, com o auxílio do Fluido Universal, modificar as propriedades físicas, químicas e organolépticas da água, transformado-a em vinho.

O termo fluido foi empregado pelos espíritos para designar, de maneira genérica, todos os elementos derivados (variações) do princípio material primitivo (denominado Fluido Universal ou Fluido Cósmico Universal) que não sejam perceptíveis no campo dos sentidos orgânicos (físicos) ou da experimentação instrumental da ciência de nosso plano. Isso se comprova quando se referem ao imã como possuindo "fluidos", ou a eletricidade como sendo também "fluido".

Embora a terminologia não seja a mais adequada, a própria evolução da ciência vai estabelecendo as denominações corretas, que terminarão sendo consagradas pelo uso. Aliás, isto estava previsto pelos espíritos e por Kardec, quando colocavam a necessidade do espiritismo evoluir junto e acompanhar os avanços científicos.


Ä Vestuário dos Espíritos.

126. Temos dito que os Espíritos se apresentam vestidos de túnicas, envoltos em largos panos, ou mesmo com os trajes que usavam em vida. O envolvimento em panos parece costume geral no mundo dos Espíritos. Mas, aonde irão eles buscar vestuários semelhantes em tudo aos que traziam quando vivos, com todos os acessórios que os completavam? E fora de qualquer dúvida que não levaram consigo esses objetos, pois que os objetos reais temo-los ainda sob as vistas. Donde então provêm os de que usam no outro mundo? Esta questão deu sempre muito que pensar. Para muitas pessoas, porém, era simples motivo de curiosidade. A ocorrência, todavia, confirmava uma questão de princípio, de grande importância, porquanto sua solução nos fez entrever uma lei geral, que também encontra aplicação no nosso mundo corpóreo. Múltiplos fatos a vieram complicar e demonstrar a insuficiência das teorias com que tentaram explicá-la. Até certo ponto, poder-se-ia compreender a existência do traje, por ser possível considerá-lo como, de alguma sorte, fazendo parte do indivíduo. O mesmo, porém, não se dá com os objetos acessórios, qual, por exemplo, a caixa de rapé do visitante da senhora doente, de quem falamos no n. 116. Notemos, a este propósito, que ali não se tratava de um morto, mas de um vivo, e que tal senhor, quando voltou em pessoa, trazia na mão uma caixa de rapé semelhante em tudo à da aparição. Onde encontrara seu Espírito a que tinha consigo, quando sentado junto ao leito da doente? Poderíamos citar grande número de casos em que Espíritos, de mortos ou de vivos, apareceram com diversos objetos, tais como bengalas, armas, cachimbos, lanternas, livros, etc. Veio-nos então uma idéia: a de que, possivelmente, aos corpos inertes da terra correspondem outros, análogos, porém etéreos, no mundo invisível; de que a matéria condensada, que forma os objetos, pode ter uma parte quintessenciada, que nos escapa aos sentidos. Não era destituída de verossimilhança esta teoria, mas se mostrava impotente para explicar todos os fatos. Um há, sobretudo, que parecia destinado a frustrar todas as interpretações. Até então, não se tratara senão de imagens, ou aparências. Vimos perfeitamente bem que o perispírito pode adquirir as propriedades da matéria e tornar-se tangível, mas essa tangibilidade é apenas momentânea e o corpo sólido se desvanece qual sombra. Já é um fenômeno muito extraordinário; porém, o que o é ainda mais é produzir-se matéria sólida persistente, conforme o provam numerosos fatos autênticos, notadamente o da escrita direta, de que falaremos minuciosamente em capítulo especial. Todavia, como este fenômeno se liga intimamente ao assunto de que agora tratamos, constituindo uma de suas mais positivas aplicações, antecipar-nos-emos, colocando-o antes do lugar em que, pela ordem, deveria ser explanado.

Ä Resumo:

1 – A vestimenta dos Espíritos é formada do elemento natural do meio em que se encontra, isto é, de matéria fluídica, moldada pela própria mente.

2 – Não se trata de um simples simulacro ou de algo apenas aparente, tem existência real, embora formada de substancia fluídica, segundo as linhas de impulsão da mente do próprio interessado.

3 – Tais impulsões podem variar de acordo com a vontade livre de Espíritos Superiores, ou de Espíritos ainda sofredores e infelizes que acionam o mecanismo mental automaticamente.

4 – Às vezes, um determinado Espírito se apresenta com uma indumentária idêntica a que usava quando ainda encarnado com vistas a ser identificado.

5 – Os objetos, aparelhos e acessórios de vestimenta não são duplos etéreos simplesmente; são formações moldadas pela manipulação dos fluidos do ambiente, por parte das entidades desencarnadas, independentemente do seu nível evolutivo.

6 – Os Espíritos inferiores também têm capacidade de moldarem os objetos de seu uso embora o façam com mais esforço e imperfeitamente.

7 – Há limites bem nítidos no mundo espiritual impedindo que os Espíritos componham o que bem quiserem; tais limites são de ordem moral.

8 – A ação da mente (encarnada ou desencarnada) sobre os fluidos é capaz de modificar-lhes a estrutura e em conseqüência conferir-lhes propriedades particulares e especiais.

9 – Tais manipulações podem ser feitas por entidades elevadas e também pelas entidades inferiores, podendo estas transmitir aos encarnados desavisados quotas de fluidos com propriedades tóxicas, causadoras de perturbações chamadas doenças fantasmas.

10 – As entidades superiores de posse de seus recursos e facilitados pelo clima de merecimento de quem necessita, são capazes de manipular fluidos curadores e transmiti-los, seja pelo passe ou pela água fluidificada.

11 – O auxílio espiritual superior, a possibilidade que alguns apresentam mais que outros, e a vontade bem disciplinada e cristã podem determinar o restabelecimento de quadros de moléstia física e psíquica, sempre guardando, porém, o respeito às Leis Superiores.

Ä Bibliografia:

- Livro "Devassando o Invisível – Yvonne. Pereira Cap. II".

- O Livro dos Médiuns, 2º. Parte – cap. VIII.

- Espírito e Matéria – Livro dos Espíritos questões 21 a 31.

- Ação dos Espíritos Sobre os Fluidos – Livro – A Gênese – cap. XIV itens 13 e 14.

- Vestuário dos Espíritos – Livro dos Médiuns – cap. VIII item 126.

- Elementos Fluídicos – Livro A Gênese cap. XIV, itens 1 a 6.

- Formação Espontânea de Objetos Tangíveis – Livro dos Médiuns cap. VIII item 128.

- Modificações das Propriedades da Matéria – Livro dos Médiuns cap. VIII item 131. Livro A Gênese cap. XIV itens 31 a 34.

Sociedade Espírita Fraternidade – SEF (www. sef. hpg. com.br)

Centro Espírita Luz Eterna – CELE (www.cele.org.br)

Carlos Augusto Petersen Parchen (www.parchen.hpg.com.br)

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