Introdução:
O assunto é por demais importante para ser esgotado em poucas considerações, como as que aqui estão registradas. Existem obras inteiras e teses valiosas que tratam do tema “Animismo e Espiritismo”, que devem ser estudadas com interesse por quantos se inclinem ao conhecimento da mediunidade. Dessa forma, recomendamos a bibliografia citada no final destas anotações como fontes fidedignas para o estudo sério do assunto em pauta.
O eminente pesquisador italiano Prof. Ernesto Bozzano, tendo recebido do Conselho Diretor do Congresso Espírita Internacional, de Glasgow, Escócia, em 1.937, a proposição para apresentar uma tese sobre o tema “Animismo ou Espiritismo? Qual dos dois explica o conjunto dos fatos?”, assim conclui no prefácio de sua obra Animismo ou Espiritismo?
“Nem um, nem outro logra, separadamente, explicar o conjunto dos fenômenos supranormais. Ambos são indispensáveis a tal fim e não podem separar-se, pois que são efeitos de uma causa única e esta causa é o espírito humano que, quando se manifesta, em momentos fugazes, durante a encarnação, determina os fenômenos anímicos e, quando se manifesta mediunicamente, durante a existência” desencarnada “, determina os fenômenos espiríticos”.
“Esta e unicamente esta a solução legítima do grande problema, dado que ela se apresenta como resultante matemática da convergência de todas as provas que advêm da coletânea metapsíquica, considerada em seu conjunto”.
Convêm destacar que na obra acima citada, o Prof. Ernesto Bozzano resume parte de seu trabalho de pesquisas e escritos, elaborados ao longo de quarenta anos de experiência e observação.
O termo Animismo vem do latim anima que quer dizer alma.
Fenômeno Mediúnico e Anímico.
Ernesto Bozzano lembra “que a denominação de” fenômenos mediúnicos “propriamente ditos designa um conjunto de manifestações supranormais, de ordem física e psíquica, que se produzem por meio de um” sensitivo “a quem é dado o nome de médium, por se revelar qual instrumento a serviço de uma vontade que não é a sua. Ora, essa vontade tanto pode ser a de um defunto, como a de um vivo. Quando a de um vivo atua desse modo, à distância, somente o pode fazer em virtude das mesmas faculdades espirituais que um defunto põe em jogo. Segue-se que as duas classes de manifestações resultam de natureza idêntica, com a diferença, puramente formal, de que, quando elas se dão por obra de um vivo, entra na órbita dos” fenômenos anímicos “propriamente ditos, e de que, quando se verificam por obra de um defunto, entram na categoria, verdadeira e própria, dos fenômenos espíritas. Evidencia-se, portanto, que as duas classes de manifestações são complementares uma da outra...” (Animismo ou Espiritismo? Cap). III).
Classificação dos Fenômenos Anímicos.
André Luiz estudando o animismo esclarece-nos o seguinte: “Temos aqui muitas ocorrências que podem repontar nos fenômenos mediúnicos de efeitos físicos ou de efeitos intelectuais, com a própria inteligência encarnada comandando manifestações ou delas participando com diligência, numa demonstração que o corpo espiritual pode efetivamente desdobrar-se e atuar com os seus recursos e implementos característicos, como consciência pensante e organizadora, fora do carro físico”. (Mecanismos da Mediunidade, Cap. XXIII).
Os fenômenos anímicos podem ser divididos em quatro grupos, segundo Alexandre Aksakof em seu livro “Animismo e Espiritismo”.
1º - Fenômenos de Telepatia: transmissão de impressões à distância. Ação extracorpórea do encarnado, comportando efeitos psíquicos.
2º - Fenômenos Telecinéticos: deslocamento de objetos à distância. Ação extracorpórea do encarnado, sob a forma de efeitos físicos.
3º - Fenômenos Telefânicos: aparições à distância. Ação extracorpórea do encarnado, traduzindo-se pela aparição de sua própria imagem. (duplos).
4º - Fenômenos Teleplásticos: formação de corpos materializados. Ação extracorpórea do encarnado, manifestando-se sob a forma de aparição de sua imagem com certos atributos de corporeidade. (bicorporiedade).
Causas dos Fenômenos Anímicos.
A causa dos fenômenos encontra-se nas propriedades do perispírito que pode desdobrar-se e atuar fora do corpo físico.
Limites das Faculdades Anímicas.
“Mas, ao mesmo tempo, cumpre observar que, ainda quando, por ora, não fosse possível traçar os limites em que se exercitam as faculdades supranormais subconscientes e que, por conseguinte, houvesse quem se arrogasse o direito de lhes conceder teoricamente a onisciência divina, as conclusões promanantes da análise aprofundada dos fenômenos anímicos se conservariam sempre invulneráveis, pela boa razão de que, quanto mais se divinize a personalidade integral subconsciente, tanto mais se reforçará a tese aqui propugnada, segundo a qual” o Animismo prova o Espiritismo ““.
“De todo modo, porém, como o conferir-se a onisciência divina à subconsciência humana constitui uma pretensão fantástica e filosoficamente absurda, importa demonstrar, baseado nos fatos, que os opositores caem em erro, quando afirmam que não se podem estabelecer limites à potencialidade investigadora das faculdades supranormais... Repito que, ao contrário, assim argumentando, incidem em grave erro, pois tudo concorre a demonstrar que é possível já é circunscrever, dentro de limites definidos, a potencialidade das faculdades supranormais.
“Esta possibilidade se deduz, antes de tudo, de uma grande lei cósmica, que governa o universo físico e o psíquico, a” lei de afinidade “que, naquele, se manifesta pelas forças de” atração “e” repulsão “, das quais derivam a organização dos sóis e dos mundos e todas a combinações químicas da matéria cósmica, ao passo que, em ambiente psíquico, se expressa sob a forma da” relação psíquica “que, do ponto de vista que nos diz respeito, circunscreve em limites relativamente estreitos os poderes investigadores das faculdades supranormais, o que se pode demonstrar com apoio nas provas por analogia...”.
“... Se for certo que as subconsciências humanas recebem e registram as vibrações psíquicas de pessoas distantes, esse recebimento deverá considerar-se circunscrito às pessoas vinculadas, ou afetivamente, ou de outras maneiras, à subconsciência receptora. Equivale isto a dizer que esta última – como se dá com o rádio – precisa estar regulada pelo” comprimento de onda “correspondente à tonalidade vibratória que diferencia de outra qualquer a pessoa ausente que se procura. Isto que, em termos metapsíquicos, se denomina” relação psíquica “, ensina que os médiuns só chegam a colher informações das subconsciências de pessoas distantes sob a condição de que ocorrem as seguintes modalidades experimentais: quando o sensitivo ou o médium conhece a pessoa ausente, ou, se tal não se dá, quando o experimentador a conheça e, ainda, em falta desta circunstancia quando seja entregue ao sensitivo ou ao médium um objeto que a pessoa buscada tenha usado por muito tempo (psicometria)”.
“Tudo isto significa que a subconsciência humana, singularmente considerada não poderá nunca apanhar os pensamentos de pessoas desconhecidas (nos três sentidos indicados) das próprias personalidades conscientes, porque não as conhecendo, ignoram a tonalidade vibratória que as caracteriza e não podem, portanto, descobri-las. Tenha-se, pois, em mente que, na falta das três modalidades experimentais acima enumeradas, não é possível que um sensitivo ou um médium consiga pôr-se em relação com a subconsciência de pessoas distantes, como não é possível que o” rádio “entre em relação com uma estação receptora que não esteja regulada pelo mesmo” comprimento de onda “. Ora, todas estas coisas significam que os casos de identificação pessoal de defuntos desconhecidos de todos os presentes, quando se dão sem o concurso de objetos psicometrizáveis, levam racionalmente a admitir-se a presença”, na outra extremidade do fio “, do defunto que se comunica. Torna-se, então, evidente, que a” lei de relação psíquica” serve para circunscrever, em limites bem definidos, as faculdades supranormais investigadoras da subconsciência humana”. (Animismo ou Espiritismo? Cap. II).
Obsessão e Animismo.
“Muitas vezes, conforme as circunstâncias, qual ocorre no fenômeno hipnótico isolado, pode cair à mente nos estados anômalos de sentido inferior, dominada por forças retrógradas que a imobilizam, temporariamente, em atitudes estranhas e indesejáveis”.
“Freqüentemente, pessoas encarnadas, nessa modalidade de provação regeneradora, são encontráveis nas reuniões mediúnicas, mergulhadas nos mais complexos estados emotivos, quais se personificassem entidades outras, quando, na realidade, exprimem a si mesmas, a emergirem da subconsciência nos trajes mentais em que se externavam noutras épocas, sob o fascínio constante dos desencarnados que as subjugam”. (Mecanismos da Mediunidade, Cap. XXIII).
Neste particular, recomendamos a leitura e o estudo do capítulo XXII, intitulado Emersão do passado do livro “Nos Domínios da Mediunidade” de André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier. Ali se encontra perfeitamente elucidado o problema da Obsessão e Animismo, esclarecimento este que nos permitirá compreender certas anormalidades psíquicas e como devemos utilizar os recursos da terapêutica na desobsessão de personalidade medianímica, provisoriamente estacionadas em semelhantes provações.
O Animismo Comprova o Espiritismo.
O fato da alma humana em desdobramento, ativando suas faculdades, poder provocar toda série de fenômenos anímicos, é de suma importância sob o ponto de vista cientifico. Isto comprova que existem no ser humano um elemento – a alma, que é capaz de atuar fora do corpo somático e gerar fenômenos de natureza idêntica aos provocados pelos desencarnados (Espíritos) e obedecendo as mesmas leis.
Estas demonstrações, por conseguinte, destroem as hipóteses contrárias à comunicabilidade dos Espíritos com os encarnados, uma vez que os fenômenos anímicos que são também fenômenos mediúnicos ratificam e afirmam os fenômenos espíritas.
‘... É racional, com efeito, supor-se que o que um Espírito “desencarnado” pode realizar também deve podê-lo – embora menos bem – um Espírito “encarnado” sob a condição, porém, de que se ache em fase transitória de diminuição vital, fase que corresponde a um processo incipiente de desencarnação do Espírito (sono fisiológico, sono sonambúlico, sono mediúnico, êxtase, delíquio, narcose, coma) ““.
“... O Animismo prova o Espiritismo” e de tal modo que, sem o Animismo, o Espiritismo careceria de base “. (Animismo ou Espiritismo? – Conclusões)”.
Educação e Função dos Médiuns – Preparo e Cuidado dos Médiuns.
Educação dos Médiuns.
O homem não conquista posição alguma, seja ela profissional, intelectual ou social, sem um trabalho perseverante. Nenhuma capacidade se desenvolve sem estudo e trabalho. Nenhuma autoridade se conquista se não estiver estribada no mérito.
A ciência da Educação comprova que a aprendizagem é o desdobramento de uma capacidade interna do indivíduo, provocado por um trabalho, por uma atividade metódica e intencional da inteligência, obedecendo a leis previamente estudadas. Estas considerações podem ser sintetizadas em certos ensinamentos imperativos de Jesus, dentre os quais destacamos: buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á; e aquele que perseverar até o fim será salvo.
Ora, qualquer conquista humana exige esforço, dedicação, interesse, estudo, que dizer do desabrochamento de uma faculdade mediúnica e seu aprimoramento, que coloca em ação valores e forças psíquicas humanas e espirituais? Bem infantil seria atitude daqueles que quisessem conquistar os valores psíquicos e espirituais a custa de facilidades e apadrinhamento, esquecendo-se das virtudes indispensáveis e do esforço próprio.
Se a inteligência para aprimorar-se sofre a diretriz metódica e inflexível da educação desde os tenros dias da infância até a maturidade, como almejar alguém as conquistas mediúnicas aprimoradas sem submeter às faculdades psíquicas ao crivo da disciplina interior, da orientação do conhecimento superior e dos padrões de moralidade? Basta que lembremos os ensinamentos ventilados nas sessões anteriores deste Centro de Orientação e Educação Mediúnica, demorando-nos na rememoração de princípios fundamentais da mediunidade à luz da Doutrina Espírita, para sentirmos que não podemos nos atirar à mediunidade com Jesus sem nos submetermos à orientação disciplinadora, séria e esclarecida. Caso contrário, seremos vítimas de ciladas e desenganos, perigos e dissabores, cuja responsabilidade será atribuída a nossa invigilância e displicência no trato com as coisas mais sérias e de importância que ultrapassa os limites da vida física.
Dito isto, passemos a focalizar os pontos fundamentais da educação dos médiuns, tendo em vista a função, o papel, a finalidade dos médiuns segundo os ensinos do Espiritismo.
As considerações que se seguem a respeito da Educação e da Função dos Médiuns, são baseadas nas obras No Invisível de Leon Denis e o Livro dos Médiuns de Allan Kardec.
O desdobramento de uma faculdade mediúnica se faz através de diferentes fases, que o médium deve previamente conhecer (daí a importância do estudo preparatório ou conjugado com a prática do desenvolvimento) para ele cientificar-se das diferentes situações nesse processo e inclusive poder orientar-se dentro dessas fases, cooperando assim, de maneira consciente e responsável, como os técnicos espirituais encarregados desse trabalho.
Fugiria destas orientações o médium involuntário ou natural em que a mediunidade se manifesta explosiva e ostensivamente. Porém, aqui estamos tratando da orientação geral para o aprimoramento mediúnico dentro de princípios estritamente espíritas. E mesmo os médiuns naturais, é bom se diga, se quiserem conhecer o que se passa consigo como médiuns e dar uma orientação elevada a sua tarefa, haverão de convencer-se, ao longo de sua experiência, que essas orientações espíritas são indispensáveis e as mais positivas para assegurar-lhes o equilíbrio psíquico, mediúnico e o cumprimento de sua função na prática do bem.
Primeiramente é importante que o médium não procure na mediunidade um objeto de simples curiosidade, de diversão ou de interesse particular. Deverá, ao contrário, considera-la uma coisa sagrada, que deve utilizar com respeito para o bem de seus semelhantes. Deve ser sua atitude inicial a de elevação do pensamento às almas generosas que trabalham no progresso da Humanidade. Essa elevação há de ser feita pelo estudo sério, pelo cultivo da prece, etc., e assim o médium merecerá a cobertura espiritual dessas almas generosas, de tal modo que as dificuldades do início, as inevitáveis decepções que experimentará no começo, não terão desagradáveis conseqüências, mas servirão para esclarecer a razão e desenvolver as forças fluídicas.
No período em fase de exercício, de trabalho preparatório, o candidato à médium não deve aspirar ou pretender realizar os grandes feitos mediúnicos ou supor-se veículo de Espíritos de elevada categoria, caindo na fascinação por vaidade, julgando-se um privilegio ou missionário.
“O escolho com que topa a maioria dos médiuns principalmente é o de terem de haver-se com Espíritos inferiores e devem dar-se por felizes quando não são Espíritos levianos. Toda atenção precisa pôr em que tais Espíritos não assumam predomínio, porquanto, em acontecendo isso, nem sempre lhes será fácil desembaraçar-se deles. É ponto este de tal modo capital, sobretudo em começo, que, não sendo tomadas às precauções necessárias, podem perder-se os frutos das mais belas faculdades”. (O Livro dos Médiuns, item 211).
Esta é, pois, uma fase normal do desenvolvimento da faculdade mediúnica, é uma escola em que a nossa paciência e discernimento se exercitam, em que aprendemos a familiarizar-nos com o modo de agir dos habitantes do mundo espiritual. Vamos comprovando, na prática, a existência das diferentes categorias de Espíritos, conforme tão bem demonstram as questões 96 a 113 de “O Livro dos Espíritos”.
Deve, pois, o médium, nessa fase de prova e de estudo elementar, estar sempre de sobreaviso e nunca se afastar de uma reserva prudente; evitar cuidadosamente as questões ociosas ou interesseiras, os gracejos, tudo, enfim, que revestir caráter frívolo e que atraia Espíritos levianos. A boa mediunidade se forma lentamente no estudo calmo, silencioso, recolhido, longe dos prazeres mundanos e do tumulto das paixões.
Terminada essa fase primeira do desenvolvimento de suas faculdades, e cuja duração não pode ser estabelecida, por diversas razoes, o médium colhe o fruto de seus perseverantes esforços, na consolidação de sua especialidade mediúnica; recebe dos Espíritos elevados, daqueles que dirigem o movimento de espiritualização da Humanidade, a consagração de suas faculdades amadurecidas no santuário da alma, abrigadas das sugestões do orgulho e poderá se tornar cooperador utilíssimo na obra de regeneração do homem.
Somente o nosso aprimoramento mediúnico poderá oferecer campo à atuação dos Espíritos elevados. Para podermos sintonizar com eles é necessário de nossa parte que mantenhamos vontade firme, fé elevada, um veemente desejo de nos tornarmos úteis e um reconhecido valor moral. Reunidas essas condições, aproximam-se de nós; começa então, muitas vezes sem o sabermos, um demorado trabalho de adaptação de seus fluidos aos nossos. À medida que se estabelece a harmonia das vibrações, a comunicação se acentua sob formas apropriadas às aptidões do médium – clarividência, clariaudiência, psicografia, psicofonia, etc. Outros Espíritos, por impulso de dedicação, ligam-se a nós e nos acompanham até o término de nossa peregrinação terrestre. São os Espíritos familiares ou Espíritos protetores.
Em Espiritismo, a questão da educação e adestramento dos médiuns é, pois, de capital importância. Os bons médiuns são raros. Isto se deve, também, ao fato de preciosas faculdades se perderem a míngua de atenção e de cultura. Quantas faculdades malbaratadas em experiências frívolas ou empregadas para fins interesseiros e egoístas?
A mediunidade é uma delicada flor que para desabrochar necessita de acuradas precauções e perseverantes cuidados. Exige o método, a paciência, as altas aspirações, os sentimentos nobres e a conquista de uma boa cobertura espiritual.
Os apressados e inconseqüentes são explorados pelos Espíritos atrasados que estiolam as promissoras faculdades.
É importante para o iniciante na prática mediúnica que o ambiente seja seguro, organizado, sério, para evitar os perigos de um falso desenvolvimento mediúnico, em que predominam as viciações, os condicionamentos, os automatismos, as falsas concepções dos ditos “Espíritos Guias”, o estímulo às mistificações e mediocridades e à obsessão.
Função dos Médiuns.
Não há mais nobre, mais elevado encargo do que participar do trabalho de propagação da verdade, sob a inspiração das potências espirituais, os Espíritos do Senhor, e fazer ouvir aos homens os divinos convites, incitando-os à luz e à perfeição. Tal é o papel da mediunidade.
Surge daí, a questão da responsabilidade. Muitos médiuns procuram no exercício de suas faculdades a satisfação do amor próprio ou de interesses comuns. Envaidecem-se da faculdade que possuem, passando a criar em torno de si uma atmosfera de misticismo, de personalidade e, aos poucos, afastam-se da verdadeira prática cristã, desinteressada e humilde, achando que tudo o que é bom e respeitável da Espiritualidade tem que ser vertido aos homens por seu intermédio senão não tem valor. Esquecem-se, muitas vezes, que a mediunidade é um dos meios de ação por que se executa o plano divino, e que eles não têm direito de utiliza-la ao sabor de suas fantasias; que pode constituir-se um perigo quando exercitada sem condições de elevação do pensamento, de moralidade, de desinteresse; que, ao contrário, deve ter por firme propósito o bem, permitindo ao médium impregnar-se de fluidos purificados, criando uma atmosfera em torno de si, preservando-se de cair em erros e deixar-se envolver nas ciladas do invisível.
Concluindo sobre a função dos médiuns, o Espiritismo atribui à mediunidade duas finalidades fundamentais:
1.ª - Dar aos homens o conhecimento da verdade;
2.ª - Promover a melhora espiritual do médium (O Livro dos Médiuns, Cap. XVII).
Preparo e Cuidado dos Médiuns: Sem dúvida alguma, o médium deve conduzir a sua vida dentro do comportamento cristão adequado para colher os frutos da faculdade mediúnica disciplinada e profícua.
Todavia, existem inúmeros cuidados que visam sua preparação interior, que devem ser observados no dia do trabalho. Assim, o seu preparo antecipado para a reunião da qual participará mais tarde compreende:
1 – Despertar: Cultivar atitude mental digna desde cedo, através da leitura de uma página de conteúdo moral elevado, da oração e da vigilância dos próprios pensamentos, impedindo que eles resvalem para a vala comum das idéias negativas e deprimentes, do comentário mordaz ou revoltado. Evitar rusgas e discussões, disciplinando as reações frente aos estímulos desagradáveis, buscando sustentar a paciência e a serenidade acima de quaisquer transtornos que sobrevenham durante o dia.
2 – Alimentação: Embora sendo fundamental a preparação espiritual para que o trabalho se realize a contento, o médium não deve alimentar-se em demasia, sobrecarregando o aparelho digestivo, impondo ao organismo uma sobrecarga desagradável, impeditiva de uma boa participação no trabalho, nem a frugalidade excessiva que trará a sensação de fraqueza e debilidade. A alimentação nas horas que precedem o trabalho deve ser normal, sem excessos na quantidade, evitando-se aquela que seja de digestão mais trabalhosa. “Estomago cheio, cérebro inábil”.
3 – Repouso Físico e Mental: Após o trabalho profissional ou doméstico, braçal ou mental, reservar alguns momentos para o refazimento geral, do corpo e da alma, através do recolhimento a ambiente silencioso, com música suave e elevada, que permita a relaxação de todo o organismo e que, através de leitura e meditação, a alma possa desligar-se das preocupações materiais, ou mesmo, inferiores que ainda a estejam aturdindo. A leitura moralizadora conduzirá o médium à sintonia com os pensamentos elevados e altruístas, condicionando-o a uma participação proveitosa no trabalho a realizar.
4 – Prece e Meditação: Atingida a pacificação interior pelo desligamento dos problemas do dia a dia, deverá o médium dedicar-se à prece e à meditação no próprio ambiente do lar, bem como nos momentos que antecedem o trabalho no recinto do próprio Centro. A meditação permitirá ao médium retirar-se em Espírito das vulgaridades terra a terra, dando-lhe condições de uma sintonia perfeita com as entidades responsáveis e participantes do trabalho mediúnico. Orar, buscando a inspiração da Vida Maior, para que realize aquilo que para ele esteja programado.
5 – Superação de Impedimentos: Uma série de impedimentos perfeitamente contornáveis pelo uso do bom-senso e da disciplina não pode constituir-se em fatos que afastem o médium da obrigação assumida com sua consciência e com o trabalho a que participa. As intempéries não podem justificar a ausência do médium às suas obrigações, bastando para isso que ele seja precavido e com antecedência deixe o seu lar com destino ao Centro quando o tempo não for favorável, prevendo possíveis dificuldades no trânsito, acesso mais difícil à Instituição, etc.
A visita inesperada de alguém que lhe dedica boa amizade, não deverá ser motivo imperioso para a falta no trabalho. Com franqueza e humildade deverá o médium esclarecer o visitante quanto ao motivo da sua ausência do lar dentro de breves minutos, sem esconder o motivo de sua retirada, cumprindo seu dever e demonstrando sua convicção nos postulados espíritas como também naquilo que realiza no Centro.
Bibliografia: Ernesto Bozzano, Animismo ou Espiritismo? Cap. I a IV e Conclusões; Alexandre Aksakof, Animismo e Espiritismo, Cap. IV; Martins Peralva, Estudando a Mediunidade, Cap. XVI; André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, Nos Domínios da Mediunidade, Cap. XXII; Idem Mecanismos da Mediunidade, Cap. XXIII; Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Parte 2.ª, Cap. VIII e o Livro dos Médiuns, parte 2.ª, Cap. VII. Leon Denis, No Invisível, 1.ª parte, Cap. V; Gabriel Delanne, Fenômeno Espírita, 3.ª parte. (Apostila do COEM).
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
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