Introdução:
Lamartine Palhano Jr., no seu "Dicionário de Filosofia Espírita", define que médium (do latim medium = meio, intermediário, medianeiro) é a pessoa que pode servir de intermediária entre os Espíritos e os homens: aquele que em um grau qualquer sente a influência dos Espíritos de modo ostensivo.
O Codificador, na obra "O Livro dos Médiuns", no item 159, define com muita precisão, de forma genérica e específica o termo médium:
"Todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos e, por esse fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não constituí, portanto, um privilégio exclusivo. Por isso mesmo, raras são as pessoas que dela não possuem alguns rudimentos. Pode, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns. Todavia, usualmente, assim só se qualificam aqueles em que a faculdade mediúnica se mostra bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que então depende de uma organização mais ou menos sensitiva. É de notar-se, além disso, que essa faculdade não se revela, da mesma maneira, em todos. Geralmente, os médiuns tem uma aptidão especial para os fenômenos desta, ou daquela ordem, donde resulta que formam tantas variedades, quantas são as espécies de manifestações ..."
De acordo com seus efeitos, a mediunidade pode ser classificada em dois grandes grupos: a de efeitos físicos e a de efeitos intelectuais.
I) Mediunidade de efeitos físicos ou objetivos: é a que sensibiliza diretamente os órgãos dos sentidos (tiptologia, sematologia, transporte, levitação, etc.).
II) Mediunidade de efeitos intelectuais ou subjetivos: é a que fere a racionalidade e o intelecto (intuição, vidência, audiência, psicofonia, psicografia, etc.).
Nesta Unidade, inicialmente, nos ocuparemos da mediunidade de efeitos intelectuais ou subjetivos:
Ä Dos Médiuns Psicógrafos:
Também denominados escreventes. São os médiuns que escrevem sob a influência dos Espíritos. De todos os meios de comunicação, a escrita manual é a mais simples, a mais cômoda e sobretudo a mais completa, permitindo aos estudiosos do fenômeno um estudo acurado da mensagem, tanto no que diz respeito ao estilo, ao conteúdo, às idéias, como também à comparação com outras mensagens recebidas anteriormente e ditadas pelo mesmo Espírito. A crítica às mensagens se torna mais fácil quando a palavra dos Espíritos está escrita, não podendo ser alterada por interpretações ou depender da memória dos participantes de determinada reunião em que a mensagem oral foi proferida.
A mediunidade psicográfica, segundo seu modo de execução, apresenta três variedades bem distintas, classificando os médiuns, desta forma em:
Médiuns Mecânicos
Médiuns Semimecânicos
Médiuns Intuitivos
a) Médiuns Mecânicos: O Espírito comunicante atua diretamente sobre a mão do médium, impulsionando-a.
O que caracteriza este gênero de mediunidade é a inconsciência absoluta, por parte do médium, do que sua mão escreve. O movimento desta independe da vontade do escrevente; movimenta-se sem interrupção, a despeito do médium, enquanto o Espírito tem alguma coisa a dizer, e para desde que este último haja concluído.
Muitas vezes o lápis se agita convulsivamente, mesmo quando o médium demonstra a maior calma e até mesmo se admira de não ser senhor de si.
Esses médiuns também são denominados passivos, e a faculdade é bastante preciosa por não permitir dúvida alguma sobre a independência do pensamento daquele que escreve.
Cumpre observar-se que, no médium puramente mecânico, o movimento da mão independe da vontade - o pensamento vem depois do ato da escrita.
b) Médiuns Semimecânicos: Também denominados semi-intuitivos. São aqueles que sentem que à sua mão é dada uma impulsão, mau grado seu, mas ao mesmo tempo, têm consciência do que escrevem, à medida que as palavras se formam.
A principal característica nessas comunicações, é que o pensamento acompanha o ato da escrita.
c) Médiuns Intuitivos: O Espírito comunicante não atua sobre a mão do médium para movê-la, mas sim sobre a sua alma, identificando-se com ela e imprimindo-lhe sua vontade e suas idéias.
A alma recebe o pensamento do Espírito e o transcreve. Nesta situação, o médium escreve voluntariamente e tem consciência do que escreve, embora não grafe seus próprios pensamentos. Mas, sendo assim, dir-se-á, nada prova seja um Espírito estranho quem escreve e não o do médium. Efetivamente, a distinção é às vezes difícil de fazer-se, porém, pode acontecer que isso pouca importância apresente. Todavia, é possível reconhecer-se o pensamento sugerido, por não ser nunca preconcebido; nasce à medida que a escrita vai sendo traçada, e, amiúde, é contrário à idéia que antecipadamente se formara. Pode mesmo estar fora dos limites dos conhecimentos e capacidades do médium.
Podemos dizer que o médium intuitivo age como faria um intérprete. Este, de fato, para transmitir o pensamento, precisa compreendê-lo, apropriar-se dele, de certo modo, para traduzi-lo fielmente e, no entanto, esse pensamento não é seu, apenas lhe atravessa o cérebro. Tal precisamente é o papel do médium intuitivo.
Nas comunicações, com o médium intuitivo o movimento da mão é voluntário e facultativo. O pensamento precede o ato da escrita.
Estes médiuns, atualmente, são os mais numerosos.
Podemos ainda classificar os médiuns psicógrafos ou escreventes, segundo o fenômeno apresentado:
a) Médiuns Polígrafos: São aqueles cuja escrita muda de acordo com o Espírito que se comunica ou que são aptos a reproduzir a escrita que o Espírito tinha em vida. O primeiro caso é muito vulgar; o segundo, o da identidade da escrita, é mais raro.
b) Médiuns Iletrados: São aqueles que escrevem, como médiuns, sem saberem ler, nem escrever, no estado ordinário. Muito raros; mais que os anteriores.
c) Médiuns poliglotas ou Xenoglotas: (xeno = estranha + glota-glossia-língua). São os que escrevem, ou falam, sob a influência dos Espíritos, em idiomas que lhe são desconhecidos.
Ä Dos Médiuns Psicofônicos: Também denominados médiuns falantes. São aqueles que propiciam ensejo a que os Espíritos entrem em comunicação com os encarnados através da palavra falada, travando conversações. Esta forma de mediunidade é bastante proveitosa, principalmente pela possibilidade de se estabelecer o diálogo com o comunicante.
Em geral, o médium psicofônico diz coisas inteiramente fora do âmbito de suas idéias habituais, de seus conhecimentos e, até, fora do alcance da sua inteligência. Não é raro verem-se pessoas iletradas e de inteligência vulgar expressar-se, em tais momentos, com verdadeira eloqüência e tratar, com incontestável superioridade, de questões sobre as quais seriam incapazes de emitir, no estado ordinário, uma opinião.
Conforme a mecânica do processo mediúnico, os médiuns psicofônicos podem ser classificados em:
Médiuns Psicofônicos Conscientes
Médiuns Psicofônicos Semiconscientes
Médiuns Psicofônicos Inconscientes
a) Médiuns Psicofônicos Conscientes: Também denominados intuitivos. A transmissão do pensamento do Espírito comunicante se faz por intermédio da alma do médium. Inicialmente, há a identificação fluídica dos perispíritos (do Espírito e do médium), Na seqüência, o Espírito transmite-lhe os seus pensamentos e, sob seu impulso, o médium transmitirá com suas próprias palavras, com suas possibilidades intelectuais e seu estilo próprio, os pensamentos recebidos. O médium tem consciência do que vai dizer e poderá até se furtar a transmitir o pensamento do Espírito.
O papel do médium consciente é o do intérprete ou mensageiro encarregado de transmitir um recado. O estilo, o vocabulário, a construção das frases são suas, mas a idéia é do Espírito.
b) Médiuns Psicofônicos Semiconscientes: Nesta variedade dos médiuns psicofônicos ou falantes, havendo entre o médium e o Espírito livre, a indispensável afinidade fluídica, o Espírito comunicante entra em contacto com o médium que se semi-exterioriza perispiritualmente, combinam-se os fluidos perispiríticos de ambos, formando uma "atmosfera fluídica", que envolve o cérebro do médium. Essa atmosfera se forma pela mistura e troca de fluidos perispiríticos do médium e do Espírito. Há nesse momento um meio intermediário entre o Espírito e o médium, sendo através desse condutor que transmite ao cérebro do médium seus pensamentos e vontade. Nesse caso ainda poderão repetir-se palavras, gestos ou frases que o médium habitualmente usa, por reflexo subconsciente, porém, o estilo e a idéia serão do Espírito que se comunica.
c) Médiuns Psicofônicos Inconscientes: O que caracteriza este tipo de mediunidade é o fato do Espírito do médium exteriorizar-se temporariamente do seu corpo, deixando-o, mais ou menos à disposição do Espírito que deseja comunicar-se. Nesta forma o médium alcança sua maior exteriorização permitindo ao Espírito comunicante maior possibilidade de intervenção "material" no fenômeno, como a modificação do tom da voz, modificação das atitudes próprias do médium e outros detalhes que lhe são característicos, chegando, raras vezes, a apresentar o médium alterações fisionômicas (transfiguração).
Mas, mesmo havendo total exteriorização do médium, este não permanece inoperante no momento do fenômeno; quando há perfeita confiança na entidade comunicante, devido a elevação espiritual já demonstrada, pode afastar-se em estudo, visitação espiritual ou outras tarefas, bem como permanecer junto ao seu corpo aproveitando os ensinamentos e a convivência daqueles momentos com o Ser que utiliza sua faculdade; ou, em caso contrário, permanece o médium em espírito junto ao Espírito que se comunica, auxiliando-o na adaptação do fenômeno, amparando-o nas suas dificuldades ou preparando-se para retomar seu corpo em qualquer ocorrência não prevista, pois o médium, mesmo o inconsciente, quando bem capacitado ao intercâmbio, policia o fenômeno que se dá por seu intermédio.
Ä Dos Médiuns Videntes:
Os médiuns videntes são dotados da faculdade de ver os Espíritos. Alguns gozam dessa faculdade em estado normal, quando perfeitamente acordados, e conservam lembrança precisa do que viram. Outros só a possuem no estado sonambúlico, ou próximo do sonambulismo. Raro é que essa faculdade se mostre permanente; quase sempre é efeito de uma crise passageira.
A possibilidade de ver em sonho os Espíritos resulta, sem contestação de uma espécie de mediunidade, mas não constitui, propriamente falando, o que se chama médium vidente.
O médium vidente julga ver com os olhos, como os que são dotados de dupla vista; mas, na realidade, é a alma quem vê, e por isso, é que eles tanto vêem com os olhos fechados, como com os olhos abertos.
Existem médiuns que apresentam a faculdade de vidência num sentido geral. São os que vêem toda a população espírita ambiente e movimentar-se. A faculdade de ver os Espíritos, pode, sem dúvida, desenvolver-se, mas é uma das que convém esperar o desenvolvimento natural, sem o provocar, em não se querendo ser joguete da própria imaginação. Quanto aos médiuns videntes, propriamente ditos, ainda são mais raros e há muito que desconfiar dos que se inculcam possuidores dessa faculdade. É prudente não se lhes dar crédito, senão diante de provas positivas. É fora de dúvida que algumas pessoas podem enganar-se de boa fé, porém, outras podem também simular esta faculdade por amor próprio e por interesse.
Ä Das Manifestações Visuais:
De todas as manifestações espíritas, as mais interessantes, sem contestação possível, são aquelas por meio das quais os Espíritos se tornam visíveis.
As aparições propriamente ditas se dão quando o vidente se acha em estado de vigília e no gozo de plena e inteira liberdade de suas faculdades. Apresentam-se, em geral, sob uma forma vaporosa e diáfana, às vezes vaga e imprecisa. A princípio é, quase sempre, uma claridade esbranquiçada, cujos contornos pouco a pouco se vão desenhando. Doutras vezes, as formas se mostram nitidamente acentuadas, distinguindo-se os menores traços da fisionomia a ponto de se tornar possível fazer-se da aparição uma descrição completa. Os ademanes (s. m. pl. Gestos; trejeitos; modos afetados. (Do lat. ad+de+manus.), o aspecto são semelhantes aos que tinha o Espírito quando vivo.
Podendo tomar todas as aparências, o Espírito se apresenta sob a que melhor o faça reconhecível, se tal é o seu desejo. Assim, embora como Espírito nenhum defeito corpóreo tenha, ele se mostrará estropiado, coxo, corcunda, ferido, com cicatrizes, se isso for necessário à prova da sua identidade.
Coisa natural é que, salvo em circunstâncias especiais, as partes menos acentuadas são os membros inferiores, enquanto que a cabeça, o tronco, os braços e as mãos são sempre claramente desenhados. Daí vem que quase nunca são vistos a andar, mas a deslizar como sombras. Geralmente médiuns videntes percebem as aparições tendo algo de vaporoso, porém o espírito que quer ou pode fazer-se visível, reveste às vezes uma forma ainda mais precisa, com todas as aparências de um corpo sólido, ao ponto de causar completa ilusão e dar a crer, aos que observam a aparição, que têm diante de si um ser corpóreo. Em alguns casos, finalmente, e sob o império de certas circunstâncias, a tangibilidade se pode tornar real, isto é, possível se torna ao observador tocar, palpar, sentir, na aparição, a mesma resistência, o mesmo calor que num corpo vivo, o que não impede que a tangibilidade se desvaneça com a rapidez do relâmpago.
Por sua natureza e em seu estado normal, o perispírito é invisível e tem isto de comum com uma imensidade de fluidos que sabemos existir, sem que entretanto, jamais os tenhamos visto. Mas, também, do mesmo modo que alguns desses fluidos, pode ele sofrer modificações que o tornem perceptível à vista, quer por meio de uma espécie de condensação, quer por meio de uma mudança na disposição de suas moléculas. Aparece-nos então sob uma forma vaporosa.
A condensação pode ser tal que o perispírito adquira as propriedades de um corpo sólido e tangível , conservando, porém, a possibilidade de retomar instantaneamente seu estado etéreo e invisível.
Esses diferentes estados do perispírito resultam da vontade do Espírito e não de uma causa física exterior, como se dá quando se operam com os gases. Quando o Espírito nos aparece, é que pôs o seu perispírito no estado próprio a torná-lo visível. Mas, para isso, não basta a sua vontade, porquanto a modificação do perispírito se opera mediante sua combinação com o fluido peculiar ao médium. Ora, esta combinação nem sempre é possível, o que explica não ser generalizada a visibilidade dos Espíritos. Assim, não basta que o Espírito queira mostrar-se; não basta tão pouco que uma pessoa queira vê-lo; é necessário que os dois fluidos possam combinar-se, que entre eles haja uma espécie de afinidade e também, porventura, que a emissão do fluido da pessoa seja suficientemente abundante para operar a transformação do perispírito e, provavelmente, que se verifiquem ainda outras condições que desconhecemos. É necessário, enfim, que o Espírito tenha permissão de se fazer visível a tal pessoa, o que nem sempre lhe é concedido, ou só o é em certas circunstâncias, por motivos que não podemos apreciar.
As aparições não constituem novidades, pois em todos os tempos se produziram. A história as registra em grande número. São freqüentes sobretudo, nos casos de morte de pessoas ausentes, que vêm visitar seus parentes e amigos. Muitas vezes as aparições não trazem fim determinado, mas pode dizer-se que, em geral, os Espíritos que assim aparecem são atraídos pela simpatia e, em algumas vezes, com a finalidade de amedrontar e vingar-se, quando se tratam de Espíritos atrasados e mal intencionados.
Diferença entre Aparições e Materializações:
Martins Peralva na sua obra "Estudando a Mediunidade", que por sua vez é baseada no livro "Nos Domínios da Mediunidade", ditada pelo Espírito André Luiz e psicografada por Francisco Cândido Xavier, esclarece com precisão no capítulo 42, a diferença entre aparições e materializações.
"MATERIALIZAÇÃO é o fenômeno pelo qual os Espíritos se corporificam, tornando-se visíveis a quantos estiverem no local das sessões.
Não é preciso ser médium para ver o Espírito materializado.
Materializando-se, corporificando-se, pode o Espírito ser visto, sentido e tocado.
Podemos abraçá-lo, sentir-lhe o calor da temperatura, ouvir-lhe as pulsações do coração e com ele conversar naturalmente.
APARIÇÃO é o fenômeno pelo qual o Espírito é visto APENAS por quem tiver vidência.
A materialização é um fenômeno objetivo e a aparição é um fenômeno subjetivo.
Há, portanto, fundamental diferença entre uma e outra."
Ä Da Bicorporeidade e da Transfiguração:
Estes dois fenômenos são variedades do das "manifestações visuais" e, assentam ambos no princípio das propriedades do perispírito, quer se encontre no mundo dos Espíritos, quer no dos encarnados.
Ä Da Bicorporeidade:
Segundo Allan Kardec, em seu Vocabulaire Spirite, trata-se de um estado de liberdade do Espírito de certas pessoas vivas de quem o perispírito pode, num momento de emancipação da alma, tomar, em um outro lugar, a aparência de um corpo tangível, de maneira a fazer crer que estar ali sua presença real e simultânea em dois lugares diferentes
Isolado do corpo, o Espírito de um vivo pode mostrar-se com todas as aparências da realidade. Além disso poderá devido às já estudadas propriedades do seu corpo perispiritual, adquirir momentaneamente tangibilidade. Este fenômeno, conhecido pelo nome de bicorporeidade, foi que deu azo (s. m. Oportunidade; ocasião; ensejo; pretexto; jeito.) às histórias de homens duplos, isto é, de indivíduos cuja presença simultânea em dois lugares diferentes se chegou a comprovar.
O fenômeno tem sua mecânica explicada através da liberdade da alma, que deixando o corpo em sono ou em estado extático, pode transportar-se revestida pelo perispírito a outro local e aí tornar-se visível pelo mesmo processo de transformação ou condensação já estudado por ocasião do tópico anterior: "Das Manifestações Visuais".
Tem, pois, dois corpos o indivíduo que se mostra simultaneamente em dois lugares diferentes. Mas, desses dois corpos, um somente é real, o outro é simples aparência. Pode-se dizer que o primeiro tem a vida orgânica e que o segundo tem a vida da alma. Ao despertar o indivíduo, os dois corpos se reúnem e a vida da alma volta ao corpo material.
Depreende-se (verbo depreender - v. tr. dir. e tr. dir. e ind. Perceber, vir ao conhecimento de; inferir, deduzir. (Do lat. deprehendere.) do exposto, que no estado de separação não podem os dois corpos gozar, simultaneamente, do mesmo grau de vida ativa e inteligente; e que o corpo real não poderia morrer, enquanto o corpo aparente se conservasse visível, porquanto a aproximação da morte sempre atrai o Espírito para o corpo, ainda que apenas por um instante. Daí resulta igualmente que o corpo aparente não poderia ser morto, porque não é orgânico, não é formado de carne e osso. Desapareceria, no momento em que o quisessem matar.
A título de esclarecimento, registramos que bilocação é o mesmo que bicorporeidade, ou seja, nesses fenômenos, o perispírito é que é deslocado.
Exemplos clássicos de fenômenos de bicorporeidade:
Dos exemplos abaixo, os dois primeiros foram tirados, não das lendas populares, mas da história eclesiástica.
I) Santo Afonso de Liguori foi canonizado antes do tempo prescrito, por se haver
mostrado simultaneamente em dois sítios diversos, o que passou por "milagre".
No entanto, como bem assevera Léon Denis na sua obra "No Invisível" (Segunda parte – O Espiritismo Experimental: Os fatos), a mística cristã registra, como fatos miraculosos, casos de bilocação ou bicorporeidade, em que facilmente reconhecemos fenômenos de exteriorização.
Estando seu corpo adormecido em sua cela (s. f. Pequeno quarto de dormir; cubículo; aposento de frade ou de freira, nos conventos. (Do lat. cella.), na cidade de Arienzo (Província de Nápoles), fato este comprovado por seus companheiros, assistia Afonso, ao mesmo tempo, ao Papa Clemente XIV, quando este agonizava em Roma. Quando ele despertou, narrou aos companheiros o fato de que acabara de ser testemunha.
O Codificador, procurando detalhar melhor esse fenômeno, evoca Santo Afonso e formula algumas questões:
" 1.ª Poderias explicar-nos esse fenômeno?
- Perfeitamente. Quando o homem, por suas virtudes, chegou a desmaterializar-se
completamente; quando conseguiu elevar sua alma para Deus, pode aparecer em dois
lugares ao mesmo tempo. Eis como: o Espírito encarnado, ao sentir que lhe vem o sono,
pode pedir a Deus lhe seja permitido transportar-se a um lugar qualquer. Seu Espírito, ou sua alma, como quiseres, abandona então o corpo, acompanhado de uma parte do seu perispírito, e deixa a matéria imunda num estado próximo do da morte. Digo próximo do da morte, porque no corpo ficou um laço que liga o perispírito e a alma à matéria, laço este que não pode ser definido. O corpo aparece, então, no lugar desejado. Creio ser isto o que queres saber."
2.ª Isso não nos dá a explicação da visibilidade e da tangibilidade do perispírito.
- Achando-se desprendido da matéria, conforme ao grau de sua elevação, pode o Espírito tornar-se tangível à matéria.
3.ª Será indispensável o sono do corpo, para que o Espírito apareça noutros
lugares?
- A alma pode dividir-se, quando se sinta atraída para lugar diferente daquele onde se acha seu corpo. Pode acontecer que o corpo não se ache adormecido, se bem seja isto muito raro; mas, em todo caso, não se encontrará num estado perfeitamente normal; será sempre um estado mais ou menos extático.
NOTA. A alma não se divide, no sentido literal do termo: irradia-se para diversos lados e pode assim manifestar-se em muitos pontos, sem se haver fracionado. Dá-se o que se dá com a luz, que pode refletir-se simultaneamente em muitos espelhos.
4.ª Que sucederia se, estando o homem a dormir, enquanto seu Espírito se mostra
noutra parte, alguém de súbito o despertasse?
- Isso não se verificaria, porque, se alguém tivesse a intenção de o despertar, o
Espírito retornaria ao corpo, prevendo a intenção, porquanto o Espírito lê os pensamentos.
NOTA. Explicação inteiramente idêntica nos deram, muitas vezes, Espíritos de
pessoas mortas, ou vivas. Santo Afonso explica o fato da dupla presença, mas não a
teoria da visibilidade e da tangibilidade.
II) Santo Antônio de Pádua. Este caso também é célebre.
Estando Santo Antônio em Pádua a pregar, interrompeu, de repente o sermão, e adormeceu. Nesse mesmo instante, em Lisboa, seu pai, acusado falsamente de homicídio, era conduzido ao suplício. Santo Antônio aparece e demonstra a inocência do pai.
III) Emilia Sagée. Esse caso, também considerado como um dos mais notáveis, é narrado por Aksakof, na sua obra "Animismo e Espiritismo, capítulos II e IV.
Sendo ela professora em Volmar, pode ser vista no jardim por várias alunas, enquanto seu corpo, momentaneamente em estado extático, encontrava-se na sala de aula.
IV) Vespasiano.(Titus Flavius Vespasianus – Imperador Romano – anos 69 à 79.)
Este fato merece nosso registro, por caracterizar o fenômeno da bicorporeidade já em épocas bem distantes. A narrativa é de Tácito:
"Durante os meses que Vespasiano passou em Alexandria, aguardando a volta dos ventos estivais e da estação em que o mar oferece segurança, muitos prodígios ocorreram, pelos quais se manifestaram a proteção do céu e o interesse que os deuses tomavam por aquele príncipe...
Esses prodígios redobraram o desejo, que Vespasiano alimentava, de visitar a
sagrada morada do deus, para consultá-lo sobre as coisas do império. Ordenou que o
templo se conservasse fechado para quem quer que fosse e, tendo nele entrado, estava todo atento ao que ia dizer o oráculo, quando percebeu, por detrás de si, um dos mais eminentes Egípcios, chamado Basílide, que ele sabia estar doente, em lugar distante
muitos dias de Alexandria. Inquiriu dos sacerdotes se Basílide viera naquele dia ao templo; inquiriu dos transeuntes se o tinham visto na cidade; por fim, despachou alguns homens a cavalo, para saberem de Basílide e veio a certificar-se de que, no momento em que este lhe aparecera, estava a oitenta milhas de distância. Desde então, não mais duvidou de que tivesse sido sobrenatural a visão." (Tácito: Histórias, liv. IV, caps. LXXXI e LXXXII. Tradução de Burnouf.)
Desdobramento:
Mais uma vez recorremos à definição de Lamartine Palhano Jr. na obra "Dicionário de Filosofia Espírita", onde consta que: - "desdobramento é o transe no qual o Espírito do percipiente desloca-se e vai até outros lugares, distantes ou não, fora da dimensão tempo/espaço, e descreve o que vê e o que faz (grifo nosso). É o processo de exteriorização do perispírito, decorrendo vários outros fenômenos: a bicorporeidade ou bilocação, por exemplo, é a materialização do perispírito do médium desdobrado, emancipado (parcialmente ou momentaneamente) do corpo."
Como bem podemos observar no capítulo XV da obra "Estudando a Mediunidade" de Martins Peralva, quando é analisado o desdobramento mediúnico, "o médium de desdobramento é aquele cujo Espírito tem a faculdade ou propriedade de desprender-se do corpo, geralmente em reuniões (também grifo nosso).
Desprende-se e excursiona por vários lugares, na Terra ou no Espaço, a fim de colaborar nos serviços, consolando ou curando.
Esse é o médium de desdobramento"
É dado o exemplo de Castro (médium de desdobramento), que, em reunião mediúnica, após a preparação necessária, é conduzido por dois amigos espirituais, pelo espaço.
Durante o percurso, o médium "adormecido", descreve a viagem: "seguimos por um trilho estreito e escuro!... Oh! Tenho medo, muito medo ... Rodrigo e Sérgio (os amigos espirituais) amparam-me na excursão, mas sinto receio! Tenho a idéia de que nos achamos em pleno nevoeiro ..."
Nesse momento, Raul Silva, o dirigente dos trabalhos, procede a elevação do padrão vibratório do grupo, numa prece fervorosa, rogando do alto forças multiplicadas para o irmão em serviço.
Imprescindível narrar os benefícios da oração sentido por Castro que narra:
"Ah, sim, meus amigos, qual se o corpo físico lhe fosse um aparelho radiofônico para comunicações à distância -, a prece de vocês atua sobre mim como se fosse um chuveiro de luz... Agradeço-lhes o benefício!... Estou reconfortado... Avançarei ..."
E assim, estimulado pela prece de Raul Silva, pela concentração dos encarnados e pelo concurso de Rodrigo e Sérgio, chega Castro ao ponto terminal da excursão, onde se entrega às alegrias do reencontro com Oliveira, dedicado companheiro do núcleo mediúnico, recentemente desencarnado.
Essa visita possibilita a observação de interessante fenômeno: Oliveira transmite ao grupo, por intermédio de Castro, uma mensagem de reconhecimento e júbilo: "Meus amigos, que o Senhor lhes pague. Estou bem, etc., etc.".
Denotamos a diferença entre o Desdobramento Mediúnico, onde o médium desdobrado transmite suas sensações, percepções e a comunicação ao grupo; enquanto que na bicorporeidade, o médium permanece extático, ou em estado de sono (corpo físico), enquanto o Espírito corporificado momentaneamente aparece em outro local .
Ä Da Transfiguração:
Pode originar-se, em certos casos, de uma simples contração muscular, capaz de dar à fisionomia expressão muito diferente da habitual, ao ponto de tornar quase irreconhecível a pessoa. Temo-la observado freqüentemente com alguns sonâmbulos; mas, nesse caso, a transformação não é radical .
O fenômeno de transfiguração real vai mais além da simples modificação de alguns traços fisionômicos.
Está admitido que:
- o Espírito pode dar ao seu perispírito todas as aparências;
- mediante uma modificação na disposição molecular, pode dar-lhe a visibilidade e tangibilidade e, consegüintemente, a opacidade;
- o perispírito de uma pessoa viva, isolado do corpo, é passível das mesmas transformações;
- essa mudança de estado se opera pela combinação dos fluidos.
Figuremos agora o perispírito de uma pessoa viva, não isolada, mas irradiando-se em volta do corpo, de maneira a envolvê-lo uma espécie de vapor. Neste estado, passível se torna das mesmas modificações de que o seria, se o corpo estivesse separado. Perdendo ele a sua transparência, o corpo pode desaparecer, tornar-se invisível, ficar velado, como se mergulhado em uma bruma. Poderá então o perispírito mudar de aspecto, fazer-se brilhante, se tal for a vontade do Espírito e se este dispuser de poder para tanto.
Um outro Espírito, combinando seus fluidos com os do primeiro, poderá a essa combinação de perispíritos, imprimir a aparência que lhe é própria, de tal sorte, que o corpo real desapareça sob um envoltório fluídico exterior, cuja aparência pode variar à vontade do Espírito. Esta parece ser a verdadeira causa do estranho fenômeno e raro, cumpra se diga, da transfiguração.
Bibliografia:
Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns – 2.ª parte, capítulos VI e VII.
Kardec, Allan. Obras Póstumas – 1.ª parte § 5.
Dellane, Gabriel. O Fenômeno Espírita – 2.ª parte, capítulo III.
Dellane, Gabriel. A Alma é imortal – 1.ª parte, capítulo III.
Denis, Léon. No Invisível – 2.ª parte, O Espiritismo experimental – Os fatos – XII.
Peralva, Martins. Estudando a Mediunidade – Cap. XV – Desdobramento Mediúnico; Cap. XLII – Materialização.
Palhano Jr. Lamartine. Dicionário de Filosofia Espírita.
Apostila do COEM – Centro de Orientação e Educação Mediúnica. Centro Espírita Luz Eterna – Curitiba. 5.ª e 6.ª sessões teóricas.
Dicionário Brasileiro Globo Multimídia.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural – vol. 24.
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
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