Introdução:
Esta unidade objetiva esclarecer, fundamentada na instrução dos Espíritos superiores, como se processa a incorporação mediúnica e a assimilação das correntes mentais, especificando a ocorrência com os médiuns conscientes, semi-conscientes e inconscientes.
Ä Incorporação Mediúnica:
É a forma de mediunidade que se caracteriza pela transmissão falada das mensagens dos Espíritos. É, em nossos dias, a faculdade mais encontrada na prática mediúnica. Pode-se dizer que é uma das mais úteis, pois, além de oferecer a oportunidade de diálogo com os Espíritos comunicantes, ainda permite a doutrinação e consolação dos Espíritos pouco esclarecidos sobre as verdades espirituais.
O papel do médium seja ele consciente ou não, é sempre passivo, visto que servindo de intérprete neste intercâmbio, deve compreender o pensamento do Espírito comunicante e transmiti-lo sem alteração, o que é mais difícil quanto menos treinado estiver.
A incorporação é também denominada psicofonia, sendo esta denominação preferida por alguns porque acham que incorporação poderia dar a idéia do Espírito comunicante penetrando o corpo do médium, fato que sabemos não ocorrer.
Martins Peralva, na sua obra "Estudando a Mediunidade, que por sua vez, baseou-se na obra "Nos Domínios da Mediunidade", ditada pelo Espírito André Luiz ao médium Francisco Cândido Xavier, esclarece que:
"É através dela (a incorporação), que os desencarnados narram, quando desejam (ou quando lhes é facultado), os seus aflitivos problemas, recebendo dos doutrinadores, em nome da fraternidade cristã, a palavra do esclarecimento e da consolação."
"Referindo-se aos benefícios recebidos pelo Espíritos nas sessões mediúnicas, é oportuno lembrarmos o que afirmam mentores balizados (balizar - v. tr. dir. Indicar por meio de balizas; abalizar; distinguir; determinar a grandeza de.).
Léon Denis, por exemplo, acentua que, no Espaço, sem a benção da incorporação, os seus fluidos, ainda grosseiros, "não lhe permitem entrar em relação com Espíritos mais adiantados".
O Assistente Aulus, focalizando o assunto, esclarece que eles "trazem ainda a mente em teor vibratório idêntico ao da existência na carne, respirando na mesma faixa de impressões".
Emmanuel, com a palavra sempre acatada, salienta a necessidade do serviço de esclarecimento aos desencarnados, uma vez que se conservam, "por algum tempo, incapazes de apreender as vibrações do plano espiritual superior"."
No Livro "Desafios da Mediunidade", o Espírito Camilo (mentor do médium e conferencista José Raul Teixeira), examina o termo "incorporação" – Questão n.º 28, trazendo um enfoque muito importante:
"É correto falar-se em "incorporação"?"
Resposta: "Não se trata bem da questão de certo ou errado. Trata-se de uma utilização tradicional, uma vez que nenhum estudioso do Espiritismo, hoje em dia, irá supor que um desencarnado possa "penetrar" o corpo de um médium, como se poderia admitir num passado não muito distante.
O fato de continuar-se a usar o termo incorporação, nos meios espíritas, também se deve a sua abrangência. Comumente (adj. Vulgarmente; geralmente. (De comum.)), é proposto o termo psicofonia; contudo, para muitos, a expressão estaria indicando somente fenômenos da fala, como na psicografia temos o fenômeno da escrita, tão somente. Ocorre que podemos encontrar médiuns psicógrafos cujo psiquismo os desencarnados comandam plenamente. Aqui, então, tecnicamente, o termo psicofonia, não se aplicaria, enquanto ficaria suficientemente compreensível o termo incorporação.
Evocamos, então, o pensamento kardequiano, expresso em O Livro dos Esíritos, dando elasticidade ao termo "alma", a fim de fazer o mesmo no tocante ao termo incorporação. Como ele aparece com muita freqüência ao longo dos estudos espíritas: "cumpre fixarmos bem o sentido que lhe atribuímos, a fim de evitarmos qualquer engano." (O Livro dos Espíritos, Introdução - II, final.)
Os médiuns de incorporação são classificados em conscientes, semi-conscientes e inconscientes.
Médiuns Conscientes:
Pode-se dizer que um médium consciente é aquele que durante o transcurso do fenômeno tem consciência plena do que está ocorrendo. O Espírito comunicante entra em contato com as irradiações perispirituais do médium, e, emitindo também suas irradiações perispirituais, forma a atmosfera fluídica capaz de permitir a transmissão de seu pensamento ao médium, que, ao captá-lo, transmitirá com as suas possibilidades, em termos de capacidade intelectual, vocabulário, gestos, etc.
O médium age como se fosse um intérprete da idéia sugerida pelo Espírito, exprimindo-a conforme sua capacidade própria de entendimento.
Esta forma de mediunidade será tanto mais proveitosa quanto maior for à cultura do médium e suas qualidades morais, a influência de espíritos bons e sábios, a facilidade e a fidelidade na filtração das idéias transmitidas. Seu desenvolvimento exige estudo constante, bom senso e análise contínua por parte do médium.
No Cap. XIX do "Livro dos Médiuns", especificamente o item 225 descreve a dissertação dada espontaneamente por um Espírito superior, sobre a questão do papel do médium, como segue:
"Qualquer que seja a natureza dos médiuns escreventes, quer mecânicos ou semimecânicos, quer simplesmente intuitivos, não variam essencialmente os nossos processos de comunicação com eles. De fato, nós nos comunicamos com os Espíritos encarnados dos médiuns, da mesma forma que com os Espíritos propriamente ditos, tão só pela irradiação do nosso pensamento".
"Os nossos pensamentos não precisam da vestidura (s. f. Tudo o que se pode vestir; vestimenta; traje; fato. (Do lat. vestitura.) da palavra, para serem compreendidos pelos Espíritos e todos os Espíritos percebem os pensamentos que lhes desejamos transmitir, sendo suficiente que lhes dirijamos esses pensamentos e isto em razão de suas faculdades intelectuais."
"Quer dizer que tal pensamento tais ou quais Espíritos o podem compreender, em virtude do adiantamento deles, ao passo que, para tais outros, por não despertarem nenhuma lembrança, nenhum conhecimento que lhes dormitem no fundo do coração, ou do cérebro, esses mesmos pensamentos não lhes são perceptíveis. Neste caso, o Espírito encarnado, que nos serve de médium, é mais apto a exprimir o nosso pensamento a outros encarnados, se bem não o compreenda, do que um Espírito desencarnado, mas pouco adiantado, se fôssemos forçado a servir-nos dele, porquanto o ser terreno põe seu corpo, como instrumento, à nossa disposição, o que o Espírito errante não pode fazer."
"Assim, quando encontramos em um médium o cérebro povoado de conhecimentos adquiridos na sua vida atual e o seu Espírito rico de conhecimentos latentes, obtidos em vidas anteriores, de natureza a nos facilitarem as comunicações, dele de preferência nos servimos, porque com ele o fenômeno da comunicação se nos toma muito mais fácil do que com um médium de inteligência limitada e de escassos conhecimentos anteriormente adquiridos. Vamos fazer-nos compreensíveis por meio de algumas explicações claras e precisas."
"Com um médium, cuja inteligência atual, ou anterior, se ache desenvolvida, o nosso pensamento se comunica instantaneamente de Espírito a Espírito, por uma faculdade peculiar à essência mesma do Espírito. Nesse caso, encontramos no cérebro do médium os elementos próprios a dar ao nosso pensamento a vestidura da palavra que lhe corresponda e isto quer o médium seja intuitivo, quer semimecânico, ou inteiramente mecânico. Essa a razão por que, seja qual for a diversidade dos Espíritos que se comunicam com um médium, os ditados que este obtém, embora procedendo de Espíritos diferentes, trazem, quanto à forma e ao colorido, o cunho que lhe é pessoal.
Com efeito, se bem o pensamento lhe seja de todo estranho, se bem o assunto esteja fora do âmbito em que ele habitualmente se move, se bem o que nós queremos dizer não provenha dele, nem por isso deixa o médium de exercer influência, no tocante à forma, pelas qualidades e propriedades inerentes à sua individualidade. É exatamente como quando observais panoramas diversos, com lentes matizadas (matizar - v. tr. dir. Variar, graduar (cores); dar cores vivas a; ornar; enfeitar; pr. ostentar cores variadas.), verdes, brancas, ou azuis; embora os panoramas, ou objetos observados, sejam inteiramente opostos e independentes, em absoluto, uns dos outros, não deixam por isso de afetar uma tonalidade que provém das cores das lentes."
"Ou, melhor: comparemos os médiuns a esses bocais cheios de líquidos coloridos e transparentes, que se vêem nos mostruários dos laboratórios farmacêuticos. Pois bem, nós somos como luzes que clareiam certos panoramas morais, filosóficos e internos, através dos médiuns, azuis, verdes, ou vermelhos, de tal sorte que os nossos raios luminosos, obrigados a passar através de vidros mais ou menos bem facetados (facetar - v. tr. dir. Fazer facetas em; lapidar; (fig.) aprimorar.), mais ou menos transparentes, isto é, de médiuns mais ou menos inteligentes, só chegam aos objetos que desejamos iluminar, tomando a coloração, ou, melhor, a forma de dizer própria e particular desses médiuns. Enfim, para terminar com uma última comparação: nós os Espíritos somos quais compositores de música, que hão composto, ou querem improvisar uma ária e que só têm à mão ou um piano, um violino, uma flauta, um fagote ou uma gaita de dez centavos. É incontestável que, com o piano, o violino, ou a flauta, executaremos a nossa composição de modo muito compreensível para os ouvintes. Se bem sejam muito diferentes uns dos outros os sons produzidos pelo piano, pelo fagote ou pela clarineta, nem por isso ela deixará de ser idêntica em qualquer desses instrumentos, abstração feita dos matizes do som. Mas, se só tivermos à nossa disposição uma gaita de dez centavos, ai está para nós a dificuldade."
"Efetivamente, quando somos obrigados a servir-nos de médiuns pouco adiantados, muito mais longo e penoso se torna o nosso trabalho, porque nos vemos forçados a lançar mão de formas incompletas, o que é para nós uma complicação, pois somos constrangidos a decompor os nossos pensamentos e a ditar palavra por palavra, letra por letra, constituindo-se isso numa fadiga e num aborrecimento, assim como um entrave real à presteza e ao desenvolvimento das nossas manifestações."
"..."Quando queremos transmitir ditados espontâneos, atuamos sobre o cérebro, sobre os arquivos do médium e preparamos os nossos materiais com os elementos que ele nos fornece e isto à sua revelia (loc. adv.): sem comparecimento ou conhecimento da parte revel. (De revel.). E como se lhe tomássemos à bolsa as somas que ele aí possa ter e puséssemos as moedas que as formam na ordem que mais conveniente nos parecesse."
"...Sem dúvida, podemos falar de matemáticas, servindo-nos de um médium a quem estas sejam absolutamente estranhas; porém, quase sempre, o Espírito desse médium possui, em estado latente, conhecimento do assunto, isto é, conhecimento peculiar ao ser fluídico e não ao ser encarnado, por ser o seu corpo atual um instrumento rebelde, ou contrário, a esse conhecimento. O mesmo se dá com a astronomia, com a poesia, com a medicina, com as diversas línguas, assim como com todos os outros conhecimentos peculiares à espécie humana."
"Finalmente, ainda temos como meio penoso de elaboração, para ser usado com médiuns completamente estranhos ao assunto de que se trate, o da reunião das letras e das palavras, uma a uma, como em tipografia."
"Conforme acima dissemos, os Espíritos não precisam vestir seus pensamentos; eles os percebem e transmitem, reciprocamente, pelo só fato de os pensamentos existirem neles. Os seres corpóreos, ao contrário, só podem perceber os pensamentos, quando revestidos. Enquanto que a letra, a palavra, o substantivo, o verbo, a frase, em suma, vos são necessários para perceberdes, mesmo mentalmente, as idéias, nenhuma forma visível ou tangível é necessária a nós." Erasto e Timóteo.
Complementa Kardec:
"NOTA. Esta análise do papel dos médiuns e dos processos pelos quais os Espíritos se comunicam é tão clara quanto lógica. Dela decorre, como princípio, que o Espírito haure, não as suas idéias, porém, os materiais de que necessita para exprimi-las, no cérebro do médium e que, quanto mais rico em materiais for esse cérebro, tanto mais fácil será a comunicação. Quando o Espírito se exprime num idioma familiar ao médium, encontra neste, inteiramente formadas, as palavras necessárias ao revestimento da idéia; se o faz numa língua estranha ao médium, não encontra neste as palavras, mas apenas as letras. Por isso é que o Espírito se vê obrigado a ditar, por assim dizer, letra a letra, tal qual como quem quisesse fazer que escrevesse alemão uma pessoa que desse idioma não conhecesse uma só palavra. Se o médium é analfabeto, nem mesmo as letras fornece ao Espírito. Preciso se torna a este conduzir-lhe a mão, como se faz a uma criança que começa a aprender. Ainda maior dificuldade a vencer encontra aí, o Espírito. Estes fenômenos, pois, são possíveis e há deles numerosos exemplos; compreende-se, no entanto, que semelhante maneira de proceder pouco apropriada se mostra para comunicações extensas e rápidas e que os Espíritos hão de preferir os instrumentos de manejo mais fácil, ou, como eles dizem, os médiuns bem aparelhados do ponto de vista deles.
Se os que reclamam esses fenômenos, como meio de se convencerem, estudassem previamente a teoria, haviam de saber em que condições excepcionais eles se produzem.
Médiuns Semi Conscientes:
É a forma de mediunidade psicofônica em que o médium sofre uma semi-exteriorização perispirítica, permitindo que esse fenômeno ocorra.
O médium sofre uma semi-exteriorizacão perispirítica em presença do Espírito comunicante, com o qual possui a devida afinidade; ou quando houve o ajustamento vibratório para que a comunicação se realizasse. Há irradiação e assimilação de fluidos emitidos pelo Espírito e pelo médium; formando a chamada atmosfera fluídica; e então ocorre a transmissão da mensagem do Espírito para o médium.
O médium vai tendo consciência do que o Espírito transmite à medida que os pensamentos daquele vão passando pelo seu cérebro, todavia o médium deverá identificar o padrão vibratório e a intencionalidade o Espírito comunicante, tolhendo-lhe qualquer possibilidade de procedimentos que firam as normas da boa disciplina mediúnica.
Ainda na forma semi-consciente, embora em menor grau que na consciente, poderá haver interferência do médium na comunicação, como repetição de frases e gestos que lhe são próprios, motivo porque necessita aprimorar sempre a faculdade, observando bem as suas reações no fenômeno, para prevenir que tais fatos sejam tomados como "mistificação". Essa é a forma mais disseminada (disseminar - v. tr. dir. Semear, espalhar por muitas partes; derramar; difundir, propagar. (Do lat. disseminare.) de mediunidade de incorporação.
Geralmente, o médium, precedendo (preceder - v. tr. dir. anteceder; estar colocado imediatamente antes de; chegar antes de. (Do lat. praecedere.) a comunicação, sente uma frase a lhe repetir insistentemente no cérebro; e, somente após emitir essa primeira frase é que as outras surgirão. Terminada a transmissão da mensagem, muitas vezes o médium só lembra, vagamente, do que foi tratado.
Médiuns Inconscientes:
Esta forma de mediunidade de incorporação caracteriza-se pela inconsciência do médium quanto a mensagem que por seu intermédio é transmitida. Isto se verifica por se dar uma exteriorização perispiritual total do médium.
O fenômeno se dá como nas formas anteriores, somente que numa gradação mais intensa. Exteriorização perispiritual, afinização com a entidade que se comunicará, emissão e assimilação de fluidos, formação da atmosfera necessária para que a mensagem se canalize por intermédio dos órgãos do médium, são indispensáveis.
Embora inconsciente da mensagem, o médium é consciente do fenômeno que está se verificando, permanecendo, muitas vezes, junto da entidade comunicante, auxiliando-a na difícil empreitada, ou, quando tem plena confiança no Espírito que se comunica, poderá afastar-se em outras atividades.
O médium, mesmo na incorporação inconsciente, é o responsável pela boa ordem do desempenho mediúnico, porque somente com a sua aquiescência (s. f. Ato de aquiescer; anuência; assentimento, consentimento), ou com sua conivência (s. f. Qualidade de conivente; cumplicidade dissimulada; colaboração. (Do lat. conniventia.), poderá o Espírito realizar algo.
Os Espíritos esclarecem que quando um Espírito se acha desprendido do seu corpo, quer pelo sono físico, quer pelo transe espontâneo ou provocado, e algo estiver iminente a lhe causar dano ao corpo, ele imediatamente despertará. Assim também acontecerá com o médium cuja faculdade se acha bem adestrada (adestrar - v. tr. dir. Tornar destro; ensinar; exercitar; treinar; pr. tornar-se destro.), mesmo estando em condições de passividade total; se o Espírito comunicante quiser lhe causar algum dano ou realizar algo que venha contra seus princípios, ele imediatamente tomará o controle do seu organismo, despertando.
Geralmente, o médium, ao recobrar sua consciência, nada ou bem pouco recordará do ocorrido ou da mensagem transmitida. Fica uma sensação vaga, comparável ao despertar de um sonho pouco nítido em que fica uma vaga impressão, mas que a pessoa não saberá afirmar com certeza do que se tratou.
Nos casos em que é deficiente ou viciosa a educação mediúnica, não há a facilidade do intercâmbio, faltando liberdade e segurança; o médium reage à exteriorização perispirítica, dificultando o desligamento e quase sempre intervém na comunicação, truncando-a (truncar - v. tr. dir. Separar do tronco; mutilar; omitir parte importante de. (Do lat. truncare.).
Algumas vezes se torna necessário, para o prosseguimento da educação mediúnica, nos chamados exercícios de incorporação, que os Mentores encarregados de tal desenvolvimento auxiliem o médium para que a exteriorização se dê. Para evitar o perigo da obsessão, eles cuidarão de exercitar o médium com os Espíritos comunicantes que não lhe ofereça perigo. Todavia, ainda nesse caso, a responsabilidade pelo desenvolvimento mediúnico está entregue ao médium, pois, se algo lhe acontecer, ele poderá despertar automaticamente. O mesmo não acontece no fenômeno obsessivo.
A mediunidade de psicofonia inconsciente é uma das mais raras no gênero. Para que o médium se entregue plenamente confiante ao fenômeno dessa ordem, é necessário que ele tenha confiança na sua faculdade, nos Espíritos que o assistem e, principalmente, no ambiente espiritual da reunião que freqüenta.
O Espírito Camilo no já citado livro "Desafios da Mediunidade", analisa alguns aspectos importantes relacionados com o tema:
Questão 15: "É possível para o médium inconsciente, após o transe, lembrar-se das sensações que teve durante a comunicação mediúnica?"
Resposta: "Tendo-se em conta que o médium, em estado de transe inconsciente, não se acha desligado do seu corpo físico, mas somente desprendido, podem remanescer em seus registros cerebrais certas impressões, ou sensações, obtidas durante o transe, podendo mencioná-las quando retorne a sua normalidade.
Durante o transe inconsciente, é comum acontecer que o médium fique num estado de sono profundo, mas que lhe permite captar sons, presenças variadas, luminosidade, ainda que não distinga esses sons, não identifique essas presenças ou não perceba donde vem a claridade. Essas sensações difusas podem fixar na memória atual e ser lembradas após o transe. Contudo, isso varia de um para outro medianeiro, não havendo uniformidade nessa questão."
Questão 14: "O fato da mediunidade manifestar-se consciente ou inconscientemente guarda relação com o adiantamento moral do médium?"
Resposta: "De modo nenhum. A manifestação mediúnica, de aspecto consciente ou inconsciente, nada tem a ver com o grau evolutivo do médium, mas está relacionada com aspectos fisiológicos ou psico-fisiológicos desse mesmo sensitivo.
Vale considerar que a consciência ou não durante o transe pode sofrer intermitências, isto é, períodos de consciência alternando com períodos de inconsciência, mormente (adv. Principalmente.) quando esses estados são determinados por situações psicológicas ou psico-fisiológicas.
Pode ocorrer que, de acordo com os tipos de Espíritos comunicantes ou com o interesse dos Guias dos médiuns, apenas certas manifestações sejam conscientes e outras não.
Depreendemos (depreender - v. tr. dir. e tr. dir. e ind. Perceber, vir ao conhecimento de; inferir, deduzir. (Do lat. deprehendere.) daí que pode haver flutuações na questão da consciência ou não do médium durante as manifestações. Só não ocorrerão alternâncias no caso em que essas características sejam determinadas pela estrutura fisiológica do sensitivo que, então, não pode ser alterada. Assim, ele será definitivamente consciente ou definitivamente inconsciente.
Por fim, é forçoso admitir que a chamada inconsciência mediúnica não traz nenhuma superioridade para o fenômeno, não sendo garantia de qualidade. O que dá ao fenômeno superioridade e garantia, num ou noutro estado consciencial, é a qualidade moral do médium, seus progressos como um todo, que fazem-no respeitado ante o Invisível, em virtude da responsabilidade, da seriedade com que encara seus compromissos."
Questão 16: "Qual a diferença entre médiuns sonambúlicos e Inconscientes?"
Resposta: "Muito embora no seio do Movimento Espírita haja o costume de chamar-se de sonambulismo àquele que sofre um transe inconsciente, pelo fato de o médium "dormir" durante o processamento do fenômeno, é necessário lembrar que o Codificador estabelece que médium sonambúlico ou sonâmbulo é o indivíduo que, em seu estado de sonambulismo comum, contata os desencarnados e transmite as mensagens que receba, podendo vê-los e com eles confabular.
O estado de emancipação do sonâmbulo é o que facilita a comunicação (O Livro dos Médiuns, cap. XIV, item 172).
No caso do médium inconsciente (Livro dos Médiuns, capítulo XVI, item 188), também chamado por Kardec de médium natural, encontramos aqueles em que o fenômeno mediúnico apresenta um caráter de espontaneidade, sem que a sua vontade consciente interfira, ou seja, nem sempre o médium está desejando ou esperando que o fenômeno aconteça.
Aqui podemos ver a importância da boa formação intelecto-moral do médium, pois esta é capaz de criar uma aura de proteção para ele, a fim de que não se torne joguete de desencarnados irresponsáveis, ou mesmo cruéis, que desejarão aproveitar-se da sua espontaneidade.
Vemos assim que, enquanto o médium inconsciente é controlado pelos desencarnados que atuam por meio dele nos variados fenômenos, quer os da psicografia, da psicofonia, da ectoplasmia e outros, o médium sonambúlico encontra-se com os desencarnados; ao desprender-se do corpo, com eles dialoga e nesse estado de emancipação relata o que vê e o que ouve. Entretanto, também o sonambúlico, ao despertar, pode guardar profunda ou parcial inconsciência do que com ele haja transcorrido no Invisível."
Ä Assimilação das Correntes Mentais:
O fenômeno da psicofonia ou incorporação é caracterizado pelo chamado envolvimento mediúnico que significa um entrosamento das correntes mentais e vibratórias do médium com o Espírito comunicante.
No fenômeno mediúnico, durante o transe, o médium apresenta condições favoráveis à assimilação das correntes mentais com as quais se afiniza.
Isso se dá pela irradiação ou exteriorização perispirítica, que permite ao médium maior liberdade, podendo ser influenciado pelo campo vibratório dos Espíritos encarnados. Havendo a sintonia vibratória o médium passa a sentir, receber ou entender vibrações mentais da entidade comunicante.
Todavia, essa assimilação de correntes mentais não se dá apenas entre os dois participantes do fenômeno mediúnico, pois as demais pessoas que participam da reunião têm importância fundamental, podendo colaborar decisivamente para o bom êxito da empreitada, como também ser causa marcante no fracasso da ligação médium-Espirito, por ter, através de seus pensamentos, determinado um clima à realização do fenômeno. Assim, todos os participantes, médiuns, doutrinador, Espírito comunicante, mentores espirituais, tem grande importância na realização do intercâmbio mediúnico.
Muitas vezes, embora o médium esteja em boas condições, o fenômeno não se dá por falta de ambientação adequada e segura para a realização da delicada tarefa do intercâmbio mediúnico sem riscos para sua integridade física e psíquica.
Bibliografia:
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Parte Segunda, Cap. XIX; Introdução, II – final.
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Capítulos XIV, item 172, XVI, item 188 e XIX, item 225.
DENIS, Leon. No Invisível. Segunda Parte, Cap. XIX
XAVIER, Francisco Cândido. Missionários da Luz. Pelo Espírito Emmanuel. Cap. VII e XVI.
XAVIER, Francisco Cândido. Nos Domínios da Mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. Cap. V.
TEIXEIRA, José Raul. Desafios da Mediunidade. Pelo Espírito Camilo. Questões 14, 15, 16 e 28.
PERALVA, Martins. Estudando a Mediunidade. Capítulo IX – Incorporação.
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
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