sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Centro Espirita (Continuação)

1- Função e Significação
O Centro Espírita não é templo nem laboratório – é para usarmos a expressão espírita de Victor Hugo: point d’optique do movimento doutrinário, ou seja, o seu ponto visual de convergência. Podemos figurá-lo como um espelho côncavo em que todas as actividades doutrinárias se reflectem e se unem, projectando-se conjugadas no plano social geral, espírita e não espírita. Por isso mesmo a sua importância, como síntese natural da dialética espírita, é fundamental para o desenvolvimento seguro da Doutrina e suas práticas. Kardec avaliou a sua importância significativa no plano da divulgação e da orientação dos Grupos, explicando ser preferível a existência de vários Centros pequenos e modestos numa cidade ou num bairro, à existência de um único Centro grande e sunptuoso.
Um Centro Espírita pequeno e modesto – como na maioria o são – atrai as pessoas realmente interessadas no conhecimento doutrinário, cria um ambiente de fraternidade activa em que as discriminações sociais e culturais desaparecem no entrelaçamento de todos os seus componentes, considerados como colaboradores necessários de uma obra única e concreta. O ideal é o Centro funcionar em sede própria, para maior e mais livre desenvolvimento de seus trabalhos, mas enquanto isso não for possível, pode funcionar com eficiência numa sala cedida ou alugada, numa garagem vazia ou mesmo numa dependência de casa familiar. As objecções contra isso só podem valer quando se trate de casas em que existam motivos impeditivos materiais ou morais.
Muitos Centros Espíritas surgiram do desenvolvimento de grupos familiais, desligando-se mais tarde da residência em que formara. A alegação de que a casa fica infestada ou coisas semelhantes é contraditada pela experiência. Um trabalho de amor ao próximo, feito com sinceridade e intenções elevadas, conta com a protecção dos Espíritos benevolentes e a própria defesa de suas boas intenções. Os Centros oriundos de grupos familiares mostram-se mais coesos e mais abertos conservando a seiva fraterna de sua origem. É esse o clima de que necessitam os trabalhos doutrinários.
Organizado o Centro, com uma denominação simples e afectiva, com o nome de um Espírito amigo ou de uma figura espírita abnegada, de pessoa já desencarnada, preparados, aprovados em assembléia geral e registrados em estatutos, a sua função e significação estão definidas como estudo e prática da Doutrina, divulgação e orientação dos interessados, serviço assistencial aos espíritos sofredores e às pessoas perturbadas, sempre segundo a Codificação de Allan Kardec. Sem Kardec não há Espiritismo, há apenas mediunismo desorientado, formas do sincretismo religioso afro-brasileiro, confusões determinadas por teorias pessoais de pretensos mestres.
Dirigentes, auxiliares e frequentadores de um Centro Espírita bem organizado sabem que a obra de Kardec é um monumento científico, filosófico e religioso de estrutura dinâmica, não estática, mas cujo desenvolvimento exige estudos e pesquisas do maior rigor metodológico, realizadas com humanidade, bom-senso, respeito à Doutrina e condições culturais superiores. Opiniões pessoais, palpites de pessoas pretensiosas, livros mediúnicos ou não de conteúdo mistificador, cheios de absurdos ridículos – seja o autor quem for – não têm nenhum valor para um verdadeiro Centro Espírita.
Cada Centro Espírita tem os seus protetores e guias espirituais que comprovam a sua autenticidade pelos serviços prestados, pelas manifestações oportunas e cautelosas, pela dedicação aos princípios kardecianos. A autoridade moral e cultural dos dirigentes e dos espíritos protectores e guias de médiuns e trabalhos decorre da integração dos mesmos na orientação de Kardec. O Centro que se esquece disso cai fatalmente em situações negativas, adoptando práticas anti-espíritas e enveredando pelo caminho da traição a Kardec e ao Espírito da verdade. As consequências dessa falência são altamente prejudiciais a todo movimento espírita. Não se trata de nenhum problema sobrenatural, mas simplesmente de falta de vigilância – principalmente contra o orgulho e a vaidade, que levam muitas pessoas a quererem evidenciar-se mais do que outras. Isso acontece também em todos os campos da actividade humana, nos quais encontramos cientistas pretensiosos e sistemáticos, negociantes fraudulentos, médicos apegados às suas ideias próprias. A pretensão humana não tem limites e cada indivíduo pretensioso está sempre assessorado por entidades mistificadoras.
A Ciência Espírita é um organismo vivo, de natureza conceptual, estruturada em leis psicológicas, ou seja, em princípios espirituais e racionais. Essa estrutura é íntegra, perfeita, harmoniosa, e não podemos violentar um só dos seus princípios sem por em perigo imediato todo o seu sistema. No Centro Espírita em que essa compreensão da doutrina não se desenvolve, na verdade não existe Espiritismo, mas apenas um vago desejo de atingi-lo. As raízes dessa estrutura conceptual estão no Cristianismo, não em seu aspecto formal-igrejeiro, mas em sua existência evangélica, definida da Codificação Kardeciana. Os evangelhos canónicos das Igrejas Cristãs estão carregados de elementos da Era Mitológica e superstições judaicas. São esses elementos do passado pagão-judeu que deformaram o ensino puro de Jesus, permitindo interpretações flagrantemente contrárias ao que Jesus ensinou e exemplificou. No livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e no livro “A Gênese” Kardec mostrou como podemos restabelecer a pureza das raízes evangélicas, usando a pesquisa histórica das origens cristãs, o método analítico-positivo de estudo histórico e o método lógico comparativo dos textos. Sem a pureza das raízes não teremos a pureza dos textos e cairemos facilmente nas trapaças ou nas ilusões dos mistificadores encarnados e desencarnados.
Nas primeiras comunidades cristãs, onde o culto pneumático era praticado, manifestavam-se espíritos furiosos, defensores de suas crenças antigas, que injuriavam o Cristo e seus adeptos. O culto constituía a parte prática do ensino espírita de Jesus. Na I Epístola aos Coríntios o Apóstolo Paulo dá instruções à comunidade de Corinto sobre a realização desse culto, ensinando até mesmo como os médiuns (então chamados profetas) se deviam comportar na reunião. Os Espíritos manifestavam-se pelos médiuns e eram doutrinados pelos participantes do culto. Esse trecho expressivo encontra-se no tópico da epístola que trata dos Dons Espirituais. Não obstante, as Igrejas Cristãs deram uma interpretação inadequada e absurda a esse trecho, como fizeram com todos os trechos do Evangelho em que Jesus se refere à reencarnação. Incapazes de doutrinar os espíritos mistificadores ou agressivos, que atacavam Jesus e a sua missão, os que se ligaram ao Império Romano suprimiram o culto pneumático, alegando que as entidades que neles se manifestavam eram diabólicas. Essa a razão porque Igrejas Cristãs repelem até hoje o Espiritismo como prática diabólica, rejeitando as manifestações espíritas.
Num Centro Espírita bem organizado esses problemas são estudados e ensinados, para que as pessoas interessadas no ensino real do Cristo possam compreender o sentido do Espiritismo. Sem isso, o Centro Espírita deixa de cumprir a sua missão na grande obra de restauração do Cristianismo em espírito e verdade. O que o Espiritismo busca é a verdade cristã, cumprindo na Terra a promessa de Jesus, que através de Kardec e seu guia Espiritual, o Espírito Superior que deu a Kardec, quando este lhe perguntou quem era, esta resposta simples: “Para você, eu sou A Verdade”. O Centro Espírita significa, assim, uma fortaleza espiritual da grande batalha para o restabelecimento da verdade cristã na Terra. Mas tudo isso deve ser encarado de maneira racional e não mística, no Centro Espírita. Ninguém está ali investido de prerrogativas divinas, mas apenas de obrigações humanas.
José Herculano Pires in O Centro Espirita
A expressão culto pneumático vem do grego, pois “pneuma” quer dizer espírito.

Centro Espirita

Introdução
Se os espíritas soubessem o que é o Centro Espírita, quais são realmente a sua função e a sua significação, o Espiritismo seria hoje o mais importante movimento cultural e espiritual da Terra. Temos no Brasil – e isso é um consenso universal – o maior, mais activo e produtivo movimento espírita do planeta. A expansão do Espiritismo em nossa terra é incessante e prossegue em ritmo acelerado. Mas o que fazemos, em todo este vasto continente espírita, é um imenso esforço de igrejificar o Espiritismo, de emparelhá-lo com as religiões decadentes e ultrapassadas, formando por toda parte núcleos místicos e, portanto, fanáticos, desligados da realidade imediata.
Dizia o Dr. Souza Ribeiro, de Campinas, nos últimos tempos de sua vida de lutas espíritas: “Não compareço a reuniões de espíritas rezadores!” E tinha razão, porque nessas reuniões ele só encontrava turba dos pedintes, suplicando ao Céu ajuda.
Ninguém estava ali para aprender a Doutrina, para romper a malha de teia de aranha do igrejismo piedoso e choramingas. A domesticação católica e protestante criara em nossa gente uma mentalidade de rebanho. O Centro Espírita tornou-se uma espécie de sacristia leiga em que padres e madres ignorantes indicavam aos pedintes o caminho do Céu. A caridade esmoler, fácil e barata, substituiu as gordas e faustosas doações à Igreja. Deus barateara a entrada do Céu, e até mesmo os intelectuais que se aproximam do Espiritismo e que têm o senso crítico, se transformam em penitentes. Associações espíritas, promissoramente organizadas, logo se transformam em grupos de rezadores pedinchões. O carimbo da igreja marcou fundo a nossa mentalidade em penúria. Mais do que subnutrição do povo, com seu cortejo trágico de endemias devastadoras, o igrejismo salvacionista depauperou a inteligência popular, com o seu cortejo de carreirismo político-religioso, idolatria mediúnica, misticismo larvar, e o que é pior, aparecimento de uma classe dirigente de supostos missionários e mestres farisaicos, estufados de vaidade e arrogância. São os guardiães dos apriscos do templo, instruídos para rejeitar os animais sacrificiais impuros, exigindo dos beatos a compra de oferendas puras nos apriscos sacerdotais.
Essa tendência mística popular, carregada de superstições seculares, favorece a proliferação de pregadores santificados, padres vieiras sem estalo, tribunos de voz empostada e gesticulação ensaiada. Toda essa carga morta esmaga o nosso movimento doutrinário e abre as suas portas para a infestação do sincretismo religioso afro-brasileiro, em que os deuses ingénuos da selva africana e das nossas selvas superam e absorvem os antigos e cansados deus cristãos. Não no clima para o desenvolvimento da Cultura Espírita.
As grandes instituições Espíritas Brasileiras e as Federações Estaduais investem-se por vontade própria de autoridade que não possuem nem podem possuir, marcadas que estão por desvios doutrinários graves, como no caso do roustainguismo da FEB e das pretensões retrógradas de grupelhos ignorantes de adulterados. Teve razões de sobra André Dumas, do Espiritismo Francês, em denunciar recentemente, em entrevista à revista Manchete, a situação católica e na verdade de anti-espírita do Movimento Espírita brasileiro. A domesticação clerical dos espíritas ameaça desfibrar todo o nosso povo, que por sua formação igrejeira tende a um tipo de alienação esquizofrênica que o Espiritismo sempre combateu, desde a proclamação de fé racional sempre no Kardec, contra a fé cega e incoerente, submissa e farisaica das pregações igrejeiras.
Jesus ensinou a orar e vigiar, recomendou o amor e a bondade, pregou a humanidade, mas jamais aconselhou a viver de orações e lamúrias, santidade fingida, disfarçada em vãs aparências de humildade, que são sempre desmentidas pelas ambições e a arrogância incontroláveis do homem terreno. Para restabelecemos a verdade espírita entre nós e reconduzirmos o nosso movimento a uma posição doutrinária digna e coerente, é preciso compreender que a Doutrina Espírita é um chamado viril à dignidade humana, à consciência do homem para deveres e compromissos no plano social e no plano espiritual, ambos conjugados em face das exigências da lei superior da Evolução Humana. Só nos aproximaremos da Angelitude, o plano superior da Espiritualidade, depois de nos havermos tornado Homens.
Os espíritas actuais, na sua maioria, tanto no Brasil como no mundo, não compreenderam ainda que estão num ponto intermediário da filogénese da divindade. Superando os reinos inferiores da Natureza, segundo o esquema poético de Léon Denis, na sequência divinamente fatal de Kardec: mineral, vegetal, animal e homem, temos o ponto neutro de gravidade entre duas esferas celestes, e esse ponto é o que chamamos ESPÍRITA. As visões fragmentárias da Realidade fundem-se dialecticamente na concepção monista preparada pelo monoteísmo. Liberto, no ponto neutro, da poderosa reação da Terra, o espírita está em condições de se elevar ao plano angélico. Mas estar em condições é uma coisa, e dar esse passo para a divindade é outra coisa. Isso depende do grau de sua compreensão doutrinária e da sua vontade real e profunda, que afecta toda a sua estrutura individual. Por isso mesmo, surge então o perigo da estagnação no misticismo, plano ilusório da falsa divindade, que produz as almas viajantes de Plotino, que nada mais são do que os espíritos errantes de Kardec. Essas almas se projectam no plano da Angelitude, mas não conseguem permanecer nele, cedendo de novo a atracção terrena da encarnação. Muitas vezes repetem a tentativa, permanecendo errantes entre as hipóstases do Céu e da Terra. Plotino viu essa realidade na intuição filosófica e na vidência platónica. Mas Kardec a verificou nas suas pesquisas espíritas, escudadas na observação racional dos factos. Apoiados na Razão, essa bússola do Real, ele nos livrava dos psicotrópicos do misticismo, oferecendo-nos a verdade exacta da Doutrina Espírita. Nela temos a orientação precisa e segura dos planos ou hipóstases superiores, sem o perigo dos ciclos muitas vezes repetidos do chamado Círculo Vicioso das Reencarnações, que os ignorantes pretendem opor à realidade incontestável da reencarnação. Pois se existe esse círculo vicioso, é isso bastante para provar o processo reencarnatório. O vício não está no processo, mas na precipitação dos homens e dos espíritos não devidamente amadurecidos, que tentam forçar a Porta do Céu.
Se no Brasil sofremos os prejuízos dos religiosismo ingénuo de nossa formação cultural, na França e nos demais países europeus – segundo as próprias declarações de André Dumas – o prejuízo provém de um cientificismo pretensioso, que despreza a tradição francesa da pesquisa científica espírita, procurando substituí-la pelas pesquisas e interpretações parapsicológicas. Esse menosprezo pedante pelo trabalho modelar de Kardec levou o próprio Dumas a desrespeitar a tradição secular da Revue Spirite, transformando-a num simulacro da revista científica do Ano 2.000. As pesquisa da parapsicologia seguiram o esquema de Kardec e foram cobrindo no tempo, sucessivamente, todas as conquistas do sábio francês. Pegada por pegada, Rhine e seus companheiros cobriram o rastro científico de Kardec. O mesmo já acontecera com Richet na metapsíquica, com Crookes e Zollner e todos os demais.
Toda a pesquisa psíquica honesta é válida, nesse campo, até mesmo a dos materialistas russos actuais ficaram presas ao esquema de Kardec, o que prova a validade irrevogável desta. Começando pela observação dos fenómenos físicos, todas as Ciências Psíquicas, nascidas do Espiritismo, fizeram a trajectória fatal traçada pelo génio de Kardec e chegaram às suas mesmas conclusões. As discordâncias interpretativas foram sempre marcadas indelevelmente pelos preconceitos e as precipitações da advertência de Descartes no Discurso do Método e pela sujeição aos interesses das Igrejas, como Kardec já assinalara em seu tempo. A questão da terminologia é puramente supérflua e, como dissera Kardec, serve apenas para provar a leviandade do espírito humano, mesmo dos sábios, sempre mais apegado à forma que ao fundo do problema.
No Espiritismo o quadro fenoménico foi dividido por Kardec em duas seções: Fenómenos Físicos e Fenómenos Inteligentes. Na Metapsíquica, Richet apresentou o esquema de Metapsíquica objectiva e Metapsíquica subjectiva. Na Parapsicologia os fenómenos espíritas passaram a chamar-se Fenómeno Psi, com divisão de Psicapa (objectivos) e Psigama (subjetivos). Quanto aos métodos de pesquisa, Crookes e Richet ativeram-se à metodologia científica da época, e Rhine limitou-se a passar dos métodos qualitativos para os quantitativos, inventando aparelhagens apropriadas aos processos tecnológicos actuais, apelando à estatística como forma de controle e comprovação dos resultados, o que simplesmente corresponde às exigências actuais nas Ciências. Kardec teve a vantagem de haver acentuado enfaticamente a necessidade de adequação do método ao objecto específico da pesquisa. O próprio método hipnótico de regressão da memória, para as pesquisas da reencarnação aplicado por Albert DeRochas do século passado, foi aproveitado pelo Prof. Vladimir Raikov. Na Roménia, o preconceito quanto ao Espiritismo gerou uma nova denominação para Parapsicologia: Psicotrónica. Com esse nome rebarbativo, os materialistas romenos pretendem exorcizar os perigos de renascimento espírita em seu país.
Todos esses factos nos mostram que a Doutrina Espírita não chegou ainda a ser conhecida pelos seus próprios adeptos em todo o mundo. Integrado no processo doutrinário de trabalho e desenvolvimento, o Centro Espírita carecia até agora de um estudo sobre as suas origens, o seu sentido e a sua significação no panorama cultural do nosso tempo. É o que procuramos fazer neste volume, com as nossas deficiências, mas na esperança de que outros estudiosos procurem completar o nosso esforço. Lembrando o Apóstolo Paulo, podemos dizer que os espíritas estão no momento exacto em que precisam desmamar das cabras celestes para se alimentarem de alimentos sólidos. Os que desejam actualizar a Doutrina, devem antes cuidar de se actualizarem nela.
José Herculano Pires In Centro Espirita

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Nuanças Mediúnicas

Obs: acerca das comunicações em outras línguas, sobretudo.

Por muito tempo, dúvidas haviam da realidade das comunicações espirituais. Compreende-se, perfeitamente, que os investigadores pouco lastreados, em suas próprias mensurações, colhessem resultados pouco animadores para não dizermos duvidosos.

As comunicações mediúnicas realizam-se em faixas subjetivas, deixando o nosso terreno intelectivo analítico, de bases objetivas, como sem possibilidades de avaliações. Partindo dessa premissa, as análises das comunicações só poderão ser feitas por indivíduos que possuam vivências no campo psicológico e, principalmente, nos denominados parapsicológicos.

É preciso registrar que as comunicações mediúnicas, de toda natureza, inclusive as realizadas com médiuns exercitados, bem traduzem o conteúdo das mensagens, porém, sempre carregando as "tinturas" do médium ou aparelho receptor.
Isto quer dizer que o Espírito comunicante, ao "refletir-se" no médium, utiliza o que o mesmo possui: se é um médium de arcabouço psicológico evoluído encontrará boas condições para exteriorizar seu pensamento; se o médium apresenta, pelo seu dia-a-dia, pouca evolução, traduzida em reduzidas condições psicológicas, é claro que o comunicante não encontrará elementos específicos a fim de expressar a desejada mensagem.

Tudo isso é bem claro como regra geral, porquanto, em casos especiais, a lógica nos faz pensar que a influência espiritual será de tal ordem, a ponto de suplantar muitas deficiências no médium que não possua certas condições. Os requisitos evolutivos dos médiuns não podem ser analisados e avaliados diante do seu atual arcabouço psicológico, porquanto, muitos deles se encontram em singelas reencarnações intelectuais, embora, possuindo um rico e experiente pretérito. Na recíproca dessas propostas poderemos ter outros tantos ângulos de avaliações. Assim, não será fácil aos avaliadores pouco afeitos a essas pesquisas, compreenderem muitos dos fatos como das inusitadas angulações da mecânica mediúnica.

Através de mais de três décadas de observações pelos campos da mediunidade, acolitado por informações espirituais de variados matizes, concluímos que o Espírito comunicante, nas denominadas incorporações mediúnicas, emite a mensagem com valores de seu pensamento, incluindo o idioma que melhor manipula. Toda essa carga psicológica será como que incrustada, após a aceitação pelo médium, nas malhas vibratórias da zona perispiritual do receptor. Por este modo, haveria um encontro de vibrações entre a vontade-apelo do Espírito e a vontade-resposta do médium, devido a sua vontade-aceitação.

O perispírito do médium, inundado pelas emissões do perispírito da Entidade comunicante, absorve essas correntes superiores de pensamento ( comunicações harmônicas ) com toda a carga que se acham investidas. Desse modo, o perispírito do receptor enriquece-se do referido material e passa a manter a corrente, que sempre existe nos indivíduos, em direção às células físicas. Nestes casos específicos, o perispírito traz, além do que é realmente do espírito do médium, os elementos enxertados pelo perispírito da Entidade comunicante, transferindo toda essa carga para a zona física. O médium adestrado na vivência mediúnica, acaba compreendendo o que é seu e o que é do Espírito comunicante, nos casos da chamada mediunidade consciente. No caso da mediunidade semiconsciente ou inconsciente a distinção torna-se mais difícil.

Realmente, será na zona de transição entre o perispírito e a matéria que esses delicados mecanismos espirituais se expressam. As correntes perispirituais, à medida que se aproximam da zona física, vão modificando o teor de suas energias especificas, possibilitando, nestas transformações, os adequados símbolos que as células nervosas ou neurônios tenham condições de entender e expressar os pensamentos captados. Nesta transmutação, a tela neuronial traduzirá, de acordo com as condições, a carga que o perispírito, já enriquecido pela mensagem, carrega.

Anote-se, como de importância, que a zona perispiritual do médium será a região que manipulará o pensamento do comunicante. Se a comunicação é fornecida por um Espírito que utilizou idioma desconhecido pelo médium, nesta região dar-se-ia a transmutação de linguagem, que será tanto mais ajustada e especifica se o médium possuir experiências pregressas naquele idioma, mesmo desconhecendo no momento presente a língua em pauta.

Tudo isso quer dizer que o delicado mecanismo mediúnico será realizado de modo a que a zona consciente do médium não intervenha; isto é, seria um processo apropriado e manipulado pelos campos internos do psiquismo ( zona espiritual ou inconsciente), onde a zona consciente não possui interferência direta. Pela natural e acertada vontade de realização do fenômeno pelo médium, haveria aberturas e facilidades de passagem da carga mensageira pelos campos terminais do psiquismo, onde as expressões conscientes se mostram na estrutura intelectual.

André Luiz, no livro Evolução em Dois Mundos, a respeito da linguagem dos desencarnados, nos fornece os seguintes dados: "Incontestavelmente, a linguagem do Espírito é, acima de tudo, a imagem que exterioriza de si próprio.

"Isso ocorre mesmo no plano físico, em que alguém, sabendo refletir-se, necessitará de poucas palavras para definir a largueza de seus planos e sentimentos, acomodando-se à síntese que lhe angaria maior cabedal de tempo e influência.

"Espíritos desencarnados, em muitos casos, quando controlam as personalidades mediúnicas que lhes oferecem sintonia, operam sobre elas a base das imagens positivas com que as envolvem no transe, compelindo-as a lhes expressar os conceitos.

"Nessas circunstâncias, expressa-se a mensagem pelo sistema de reflexão, em que o médium, embora guardando o córtex encefálico anestesiado por ação magnética do comunicante, lhe recebe os ideogramas e os transmite com as palavras que lhe são próprias."

Até o momento ainda desconhecemos os detalhes desta complexa estruturação que é o fenômeno mediúnico. A fim de compreendermos como o processo se deve dar, é que fizemos a descrição acima, em síntese, como hipótese de entendimento. Este mecanismo estará amparado não só em observações e convivência do fenômeno, como também, pelas informações espirituais criteriosas, apesar de quase sempre reduzidas, coisa de fácil compreensão. Consideremos, também, como de valor, na avaliação da fenomenologia em pauta, as pesquisas realizadas com as regressões de memória.

O nosso trabalho sobre regressão de memória, auxiliado pela hipnose, forneceu bom material para ilações neste campo. Anotamos que alguns daqueles que participam das regressões de memória, em recordando determinada etapa reencarnatória pretérita, falava a língua da época; em raros casos registramos algum arrastado sotaque, devendo-se, esta condição, a atual tela consciente, onde os dados pretéritos tinham dificuldades de se mostrarem integrais em sua origem.Joeirand-se estes pequenos e reduzidos fatores, as forças internas do regredido, isto é, seu bloco energético anímico, mostrava grande parte do passado pelas aberturas que a hipnose determinou na zona consciente.

Trazendo esses fatores para o setor mediúnico, onde, como vimos, existem manipulações das zonas perispirituais em ação - emissor e receptor, Espírito comunicante e médium - vê-se quanto o aparelho receptor elabora elementos para bem traduzir o que o emissor ( Espírito) deseja.

As coisas passam a mostrar maior complexidade, quando o pensamento do comunicante se faz em idioma diferente daquele que o médium está manipulando no seu dia-a-dia de encarnado.

Haverá, assim, nos arcanos do Espírito, zonas e campos onde o pensamento é um só e, à medida que esse bloco de energias vai ganhando a periferia do psiquismo ou zona consciente, vai existindo a necessidade da palavra e organização de frases para a expressão do pensamento. Quanto mais para o psiquismo de profundidade ou zona espiritual o pensamento será como que purificado e representando um único matiz; isto é, o bloco de energias se faz presente e, vibratoriamente, elabora a percepção sem a necessidade da palavra. Quanto mais perto do psiquismo de superfície ou zona material ( zona consciente), mais haverá necessidade das expressões perceptivas de um idioma.

Todas as frases de uma determinada língua possuem a carga de sua própria emoção, na dependência de quem está fazendo a emissão. É como se as palavras tivessem um sustentáculo energético do pensamento elaborado. Assim, as palavras seriam símbolos elaborados, entre a zona espiritual e perispiritual, com finalidade de utilização pela zona consciente, onde se refletem e se mostram. À medida que o ser vai evoluindo, todos esses símbolos, estribados nos variados idiomas e arrecadados nas diversas etapas reencarnatórias, se vão como que ajustando e buscando pontos comuns até se refletirem num idioma universal.

Revista "Presença Espírita".
Jorge Ândrea dos Santos