domingo, 30 de março de 2008

Estudo do Espiritismo-Capítulo 3 - O Tríplice Aspecto do Espiritismo

No prólogo de o livro “O Que é o Espiritismo”, Allan Kardec define o Espiritismo como sendo: "Uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos espíritos, bem como das suas relações com o mundo espiritual."
Em outra passagem, ainda na mesma obra, o Codificador acrescenta ainda:
"O Espiritismo é ao mesmo tempo ciência experimental e Doutrina Filosófica. Como ciência prática, tem a sua essência nas relações que podem ser estabelecidas com os espíritos.
Como filosofia compreende todas as consequências morais decorrentes dessas relações."
Pode-se observar no pensamento do Codificador, que o Espiritismo se reveste assim de três aspectos distintos, mas complementares:
a) Ciência Experimental;
b) Doutrina Filosófica;
c) As consequências morais decorrentes das duas anteriores.
Emmanuel, em [O Consolador] nos diz:
"Podemos tomar o Espiritismo, simbolizado como um triângulo de forças espirituais. A ciência e a filosofia vinculam à Terra essa figura simbólica, porém, a religião é o ângulo divino que a liga ao céu."
Em outra mensagem mediúnica, o benfeitor acrescenta:
"Não será justo no nosso movimento libertador da vida espiritual, prescindir da ciência que estuda, da filosofia que esclarece e da religião que sublima."

Espiritismo e Ciência
No aspecto científico, o Espiritismo demonstra a existência da alma e a sua imortalidade, principalmente através do intercâmbio mediúnico entre os encarnados e desencarnados.
O espiritismo preocupa-se em estudar a intimidade do fenómeno mediúnico, as suas consequências na vida das pessoas, bem como as características do ser espiritual, a sua origem, a sua natureza e o seu destino.
O aspecto científico do Espiritismo desenvolve-se em duas obras de Allan Kardec, o Livro dos Médiuns e A Génese.

Espiritismo e Filosofia
Quando o Homem pergunta, interroga, cogita, quer saber o "como" e o "porquê" das coisas, dos factos, dos acontecimentos, nasce a filosofia que mostra o que são as coisas e porque são as coisas.
No aspecto filosófico, o Espiritismo preocupa-se com os problemas do Homem, com as suas dúvidas, as suas questões, a sua condição de ser eterno em busca da Divindade, através de múltiplas existências físicas. Vai examinar os atributos da Divindade, as suas relações com o Homem e vai apresentar um código de moral através do qual a criatura se identificará, um dia, com o seu Criador. O aspecto filosófico encontra-se tocado no Livro dos Espíritos.

Espiritismo e Religião
Ao ser questionado quanto ao aspecto religião do Espiritismo, o médium Francisco Cândido Xavier assim se manifestou [Entrevistas – item 97]:
"Poderíamos figurar, por exemplo, a Ciência como sendo a verdade, a Religião, como sendo a vida e a Filosofia como sendo a indagação da criatura humana entre a Verdade e a Vida. Todos os três aspectos são muito importantes, porque a Filosofia estuda sempre, a Ciência descobre sempre, mas a Vida actua sempre. Todos esses aspectos são essenciais, mas a Religião é sempre a mais importante, porque a verdade é uma luz que a todos chegaremos, a indagação é um processo do que todos participamos, mas a vida não deve ser sacrificada nunca e a Religião assegura a vida, assegurando a ordem da vida."
Como religião, o Espiritismo preocupa-se com as consequências morais do ensino científico- filosófico, buscando, na ética pregada por Jesus, os elementos que deverão ser a meta e a conduta do Homem.
No entanto, o Espiritismo não se trata de uma Religião constituída, tradicional, estruturada através de rituais, sacramentos, dogmas e classes sacerdotais. Mas sim, uma religião no sentido etimológico do termo, como "religare", ou seja, elemento de ligação da criatura com o Criador. Religião como atitude de vida, como modo de proceder, buscando uma identificação com Deus, não através de atitudes exteriores, artificiais, mecanizadas, mas através de uma vida recta, digna e fraterna.
O Espiritismo não se pode considerar uma religião a mais, visto que não tem cultos instituídos, nem imagens, nem rituais, nem mitos, nem crendices, nem tão pouco sacerdotes remunerados. Podemos porém, considerá-lo no seu aspecto religioso quando estabelece um laço moral entre os homens, conduzindo-os em direcção ao Criador, através da vivência dos ensinamentos morais do Cristo. É no seu aspecto religioso que assenta a sua grandeza divina, por constituir a restauração do Evangelho de Jesus, estabelecendo a renovação definitiva do homem, para a grandeza do seu imenso futuro espiritual.
O aspecto religioso é desenvolvido por Kardec nas obras o Evangelho Segundo o Espiritismo e no Céu e Inferno.

Deus e os atributos da Divindade
No Livro dos Espíritos, o capítulo I trata exclusivamente de Deus. Allan Kardec pretendeu assim demonstrar, com isso, que o Espiritismo tem na existência de Deus o seu primeiro princípio basilar.
Deus, porém, não pode ser percebido pelo homem na sua divina essência. Mesmo depois de desencarnado, dispondo de faculdades perceptivas menos materiais, não pode ainda o espírito perceber totalmente a sua natureza divina.
Pode, entretanto, o homem, ainda no estágio de inferioridade em que se encontra, ter convincentes provas de que o espírito existe. Esta provas se assentam na razão e no sentimento.
Racionalmente, a prova da existência de Deus encontramo-la neste axioma: "Não há efeito sem causa."
Vemos constantemente uma imensidade de efeitos cuja causa não está na humanidade, pois a humanidade é impotente para produzi-los. A causa, portanto, está acima da humanidade. É a esta causa que se chama Deus, Jeová, Alá, Fo-Hi, etc.
Outro princípio igualmente elementar e que de tão verdadeiro passou a axioma é o de que "todo efeito inteligente tem que decorrer de uma causa inteligente."
Os efeitos referidos acima absolutamente não se produzem ao acaso, fortuitamente e em desordem.
Desde a organização do mais pequenino insecto e da mais insignificante semente, até a lei que rege os mundos que circulam no espaço, tudo atesta uma ideia directora, uma combinação, uma providência que ultrapassa todas as combinações humanas. A causa é, pois, soberanamente inteligente. Alguns atribuem a formação primária das coisas a uma combinação da matéria, isto é, ao acaso. Isto constitui uma insensatez, pois o acaso é cego e não pode produzir os efeitos que a inteligência produz. Um acaso inteligente já não seria acaso.
Kardec lembra um provérbio que diz: “Pela obra se reconhece o autor.” Vejamos a obra e procuremos o autor. O homem orgulhoso nada admite acima de si. Procurando a causa primária da obra do Universo, se reconhece no seu autor uma inteligência suprema, superior à humanidade.
Para crer-se em Deus, basta que se lance o olhar sobre as obras da Criação. O universo existe, logo tem uma causa. Duvidar da existência de Deus é negar que todo o efeito tem uma causa e adiantar que o nada pode fazer alguma coisa.
Pelo sentimento, pode o homem, ainda compreender a existência de Deus, porque há no homem, desde o mais primitivo até ao mais civilizado, a ideia inata da existência de Deus. Acima pois, do raciocínio lógico, prova-nos a existência de Deus a intuição que dele temos.
O sentimento instintivo que todos os homens têm da existência de Deus é, sem dúvida, uma forte evidência da Sua realidade. Esse sentimento não é fruto de uma educação, resultado de ideias adquiridas pois ele é universal, encontra-se mesmo entre os selvagens a que nenhum ensinamento a respeito foi ministrado.
Os povos selvagens nenhuma revelação tiveram, no entanto, crêem instintivamente na existência de um poder sobre-humano.

O Que é Deus?
Com respeito ao conceito de Deus segundo o Espiritismo, sabendo-se que limitar Deus a uma única definição é impossível.
Allan Kardec em o livro dos espíritos, questão 1 indaga aos Espíritos sobre a Divindade. De forma lógica, não usa a forma
“Quem é Deus?” que daria um sentido de personificação, uma ideia antropomórfica, mas busca ele a natureza íntima, a essência das coisas, formulando a proposição desta forma: “Que é Deus?”; ao que os Espíritos respondem:
"Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas."
Mas quando Kardec procura desenvolver esta definição dos espíritos indagando se poderíamos aprofundar no entendimento da Divindade, os benfeitores afirmam:
"Não. Falta-lhe, para tanto, um sentido."
E acrescentam:
"Quando o seu espírito não estiver mais obscurecido pela matéria, e pela sua perfeição tiver se aproximado Dela, então A verá e A compreenderá." (Livro dos Espíritos – Questões 10 e 11)

Atributos da Divindade
Afirma Allan Kardec, baseado no pensamento dos Espíritos Superiores, que não é dado ao homem sondar a natureza íntima de Deus. Para compreendê-lo, ainda nos falta o sentido próprio, que só se adquire
por meio da completa depuração do espírito.
Mas, se não pode penetrar na essência de Deus, o homem pode, pelo raciocínio, chegar a conhecer-lhe os atributos necessários, suas qualidades básicas, porquanto, vendo o que ele absolutamente não pode ser, sem deixar de ser Deus, deduz daí o que ele deve ser.
Sem o conhecimento dos atributos de Deus, impossível seria compreender-se a obra da Criação.
Esse o ponto de partida de todas as crenças religiosas e é por não se terem reportado a isso, como ao farol capaz de as orientar, que a maioria das religiões errou nos seus dogmas. As que não atribuíram a Deus a omnipotência imaginaram muitos deuses, as que não lhe atribuíram soberana bondade fizeram dele um Deus cioso, colérico, parcial e vingativo.
Podemos assim dizer que Deus é a SUPREMA e SOBERANA INTELIGÊNCIA, ETERNO, IMUTÁVEL, IMATERIAL, OMNIPOTENTE, SOBERANAMENTE JUSTO e BOM, INFINITAMENTE PERFEITO e ÚNICO.
-) Suprema e Soberana Inteligência: é limitada a inteligência do homem, pois que não pode fazer, nem compreender tudo o que existe. A de Deus, abrangendo o infinito, tem de ser infinita. Se a supuséssemos limitada num ponto qualquer, poderíamos conceber outro ser mais inteligente, capaz de compreender e fazer o que o primeiro não faria e assim por diante, até ao infinito.

-) Eterno: Deus não teve começo e não terá fim. Se tivesse tido princípio, houvera saído do nada. Ora, não sendo o nada coisa alguma, coisa nenhuma pode produzir. Ou, então, teria sido criado por outro ser anterior, nesse caso, este ser é que seria Deus. Se lhe supuséssemos um começo ou fim, poderíamos conceber uma entidade existente antes dele e capaz de lhe sobreviver, e assim por diante, ao infinito.

-) Imutável: se estivesse sujeito a mudanças, nenhuma estabilidade teriam as leis que regem o universo.

-) Imaterial: a natureza de Deus difere de tudo o que chamamos matéria. De outro modo, não seria imutável, pois estaria sujeito às transformações da matéria.
-) Omnipotente: se não possuísse o poder supremo, sempre se poderia conceber uma entidade mais poderosa e assim por diante, até chegar-se ao ser cuja potencialidade nenhum outro ultrapassasse.
Então esse é que seria Deus.

-) Soberanamente Justo e Bom: a providencial sabedoria das leis divinas se revela nas mais pequeninas coisas, como nas maiores, não permitindo essa sabedoria que se duvide da sua justiça, nem da sua bondade.

-) Infinitamente Perfeito: é impossível conceber-se Deus sem o infinito das perfeições, sem o que não seria Deus, pois sempre se poderia conceber um ser que possuísse o que lhe faltasse. Para que nenhum ser possa ultrapassá-lo, faz-se mister que ele seja infinito em tudo.

-) Único: a unicidade de Deus é consequência do facto de serem infinitas as suas perfeições.
Não poderia existir outro Deus, salvo sob a condição de ser igualmente infinito em todas as coisas, visto que se houvesse entre eles a mais ligeira diferença, um seria inferior ao outro, subordinado ao poder desse outro e então, não seria Deus. Se houvesse entre eles igualdade absoluta, isto equivaleria a existir de toda eternidade, um mesmo pensamento, uma mesma vontade, um mesmo poder. Confundidos assim, quanto à
identidade, não haveria, em realidade, mais do que um único Deus.

A Providência Divina
A providência é a solicitude de Deus para com as suas criaturas, o cuidado permanente e o interesse infinito que o Criador tem pela sua obra maior, que é o espírito.
Deus está em toda parte, tudo vê, a tudo preside, mesmo às coisas mais mínimas. É nisto que consiste a acção providencial.
Deus, em relação às suas criaturas, é a própria Providência, na sua mais alta expressão, infinitamente acima de todas as possibilidade humanas. Manifesta-se em todas as coisas, está imanente no universo e se exerce através de leis admiráveis e sábias. Tudo foi disposto pelo amor do Pai, soberanamente bom e justo, para o bem dos seus filhos, desde as mais elementares providências para a manutenção da vida orgânica até à dispersão da faculdade superior do livre arbítrio, que dá ao homem o
mérito da conquista consciente da felicidade.
Deus tudo fez e tudo faz para o bem das criaturas. Imprimiu-lhes na consciência todas as leis morais e, em relação à humanidade terrestre, ainda se manifestou quando nos confiou a Jesus.

Bibliografia e referências
a) [LE] O Livro dos Espíritos - Allan Kardec
b) [GEN] A Gênese - Allan Kardec
c) O que é o Espiritismo - Allan Kardec
d) Livro dos Espíritos - Allan Kardec
e) Allan Kardec (Vol. III) - Zêus Wantuil e Francisco Thiesen
f) O Consolador - Emmanuel/Chico Xavier
g) Entrevistas - Emmanuel/Chico Xavier

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