sábado, 31 de outubro de 2009

Curas de Obsessões

Escrevera-nos de Cazères, em 7 de janeiro de 1866:

“Eis um segundo caso de obsessão, que empreendemos e levamos a bom fim durante o mês de julho último. A obsidiada tinha a idade de vinte e dois anos; gozava de uma saúde perfeita; apesar disto, foi de repente vítima de acessos de loucura; seus pais afizeram cuidar por médicos, mas inutilmente, porque o mal, em lugar de desaparecer, tornava-se cada vez mais intenso, ao ponto que, durante as crises, era impossível contê-la.

Os pais, vendo isto, segundo o conselho dos médicos, obtiveram sua admissão em uma casa de alienados, onde seu estado não experimentou nenhuma melhora. Nem eles nem a doente jamais se ocuparam do Espiritismo, que mesmo não conheciam; mas tendo ouvido falar da cura de Jeanne R..., da qual convosco conversei, vieram nos procurar para nos pedir se poderíamos fazer alguma coisa por sua infeliz filha.

Respondemos que não poderíamos nada afirmar antes de conhecer a verdadeira causa do mal. Nossos guias, consultados em nossa primeira sessão, nos disseram que essa jovem estava subjugada por um Espírito muito rebelde, mas que acabaríamos por conduzi-lo a um bom caminho, e que a cura que se seguiria nos daria a prova da verdade desta afirmação.

Em consequência, escrevi aos pais, distantes de nossa cidade 35 quilômetros, que sua filha se curaria, e que a cura não demoraria muito tempo para chegar, sem, no entanto, poder precisar-lhe a época.

Evocamos o Espírito obsessor durante oito dias seguidos e fomos bastante felizes por mudar suas más disposições e fazê-lo renunciar a atormentar sua vítima. Com efeito, a doente sarou, como o haviam anunciado nossos guias.

Os adversários do Espiritismo repetem sem cessar que a prática desta Doutrina conduz ao hospital. Pois bem! Podemos dizer-lhes, nesta circunstância, que o Espiritismo de lá fez sair aqueles que a tinham feito entrar.”

Este fato, entre mil, é uma nova prova da existência da loucura obsessional, cuja causa é diferente daquela da loucura patológica, e diante da qual a ciência fracassará enquanto se obstinar a negar o elemento espiritual e sua influência sobre o organismo.

O caso aqui é bem evidente: eis uma jovem apresentando de tal modo os caracteres da loucura, que os médicos a desprezaram, e que está curada, a várias léguas de distância, por pessoas que jamais a viram, sem nenhum medicamento nem tratamento médico, e unicamente pela moralização do Espírito obsessor. Há, pois, Espíritos obsessores cuja ação pode ser perniciosa para a razão e a saúde.

Não é certo que se a loucura tivesse sido ocasionada por uma lesão orgânica qualquer, esse meio teria sido impotente? Se se objetasse que essa cura espontânea pode ser devida a uma causa fortuita, responderíamos que se não tivesse a citar senão um único fato, sem dúvida, seria temerário disso deduzir a afirmação de um princípio tão importante, mas os exemplos de curas semelhantes são muito numerosos; não são o privilégio de um indivíduo, e se repetem todos os dias em diversas regiões, sinais indubitáveis de que repousam sobre uma lei natural.

Citamos várias curas deste gênero, notadamente nos meses de fevereiro de 1864 e janeiro de 1865, que contêm duas relações completas eminentemente instrutivas. Eis um outro fato, não menos característico, obtido no grupo de Marmande:

Numa aldeia, a algumas léguas dessa cidade, tinha um camponês atacado de uma loucura de tal modo furiosa, que perseguia as pessoas a golpes de forcado para matá-las, e que na falta de pessoas, atacava os animais do galinheiro.

Ele corria sem cessar pelos campos e não voltava mais para sua casa. Sua presença era perigosa; assim, obteve-se sem dificuldade a autorização de interná-lo na casa dos alienados de Cadillac.

Não foi sem um vivo desgosto que a sua família se viu forçada a tomar essa decisão.

Antes de levá-lo, um de seus parentes tendo ouvido falar das curas obtidas em Marmande, em casos semelhantes, veio procurar o Sr. Dombre e lhe disse: “Senhor, me disseram que curais os loucos, é por isso que venho vos procurar.”

Depois lhe contou do que se tratava, acrescentando: “É que, vede, isso nos dá tanta pena de nos separar desse pobre J... que gostaria antes de ver se não há um meio de impedi-lo.”

- “Meu bravo homem, disse-lhe o Sr. Dombre, não sei quem me deu essa reputação; triunfei algumas vezes, é verdade, em devolver a razão a pobres insensatos, mas isto depende da causa da loucura. Embora não vos conheça, vou ver, no entanto, se posso vos ser útil.”

Tendo ido imediatamente com o indivíduo à casa de seu médium habitual, obteve de seu guia a segurança de que se tratava de uma grave obsessão, mas que com a perseverança dela triunfaria. Sobre isto disse ao camponês: “Esperai ainda alguns dias antes de conduzir vosso parente a Cadillac; dele iremos nos ocupar; retornai a cada dois dias para dizer-me como ele se encontra.”

Desde esse dia se puseram à obra. O Espírito se mostrou, de início, como seus semelhantes, pouco tratável; pouco a pouco, acabou por humanizar-se, e, finalmente, por renunciar a atormentar esse infeliz.

Um fato bastante particular é que ele declara não ter nenhum motivo de ódio contra esse homem; que, atormentou por necessidade de fazer o mal, nisso se prendeu a ele como a qualquer outro; que reconhecia agora ter errado e disto pedia perdão a Deus.

O camponês retornou depois de dois dias, e disse que seu parente estava mais calmo, mas que não tinha ainda retornado para sua casa, e se escondia nas cercas vivas. Na visita seguinte, ele havia retornado à casa, mas estava sombrio, e se mantinha afastado; não procurava mais ferir ninguém. Alguns dias depois, ia à feira e fazia seus negócios, como de hábito.

Assim, oito dias tinham bastado para reconduzi-lo ao estado normal, e isto sem nenhum tratamento físico. É mais que provável que, se o tivesse encerrado com os loucos, teria perdido completamente a razão.

A obsessão, como dissemos, é um dos maiores escolhos da mediunidade. É também um dos mais frequentes. Assim, nunca serão demais as providências para combatê-la. Mesmo porque, além dos prejuízos pessoais que dela resultam, constitui um obstáculo absoluto à pureza e à veracidade das comunicações. A obsessão, em qualquer dos seus graus, sendo sempre o resultado de um constrangimento, e não podendo jamais esse constrangimento ser exercido por um Espírito bom, segue-se que toda comunicação dada por um médium obsedado é de origem suspeita e não merece nenhuma confiança. Se, por vezes, se encontrar nela algo de bom, é necessário restringir-se a isso e rejeitar tudo o que apresentar o menor motivo de dúvida.


Reconhece-se a obsessão pelas seguintes características:

1) Insistência de um Espírito em comunicar-se queria ou não o médium, pela escrita, pela audição, pela tiptologia etc., opondo-se a que outros Espíritos o façam.

2) Ilusão que, não obstante a inteligência do médium, o impede de reconhecer a falsidade e o ridículo das comunicações recebidas.

3) Crença na infalibilidade e na identidade absoluta dos Espíritos que se comunicam e que, sob nomes respeitáveis e venerados, dizem falsidades ou absurdos.

4) Aceitação pelo médium dos elogios que lhe fazem os Espíritos que se comunicam por seu intermédio.

5) Disposição para se afastar das pessoas que podem esclarecê-lo.

6) Levar a mal a crítica das comunicações que recebe.

7) Necessidade incessante e inoportuna de escrever.

8) Qualquer forma de constrangimento físico, dominando-lhe à vontade e forçando-o a agir ou falar sem querer.

9) Ruídos e transtornos em redor do médium, causados por ele ou tendo-o por alvo.

Os motivos da obsessão variam segundo o caráter do Espírito. Às vezes é a prática de uma vingança contra pessoa que o magoou na sua vida ou numa existência anterior. Freqüentemente é apenas o desejo de fazer o mal, pois como sofre, deseja fazer os outros sofrerem, sentido uma espécie de prazer em atormentá-los e humilhá-los. A impaciência das vítimas também influi, porque ele vê atingido o seu objetivo, enquanto a paciência acaba por cansá-lo. Ao se irritar, mostrando-se zangado, a vítima faz precisamente o que ele quer. Esses Espíritos agem às vezes pelo ódio que lhes desperta a inveja do bem, e é por isso que lançam a sua maldade sobre criaturas honestas.

Há Espíritos obsessores sem maldade, que são até mesmo bons, mas dominados pelo orgulho do falso saber: têm suas idéias, seus sistemas sobre as Ciências, a Economia Social, a Moral, a Religião, a Filosofia. Querem impor a sua opinião e para isso procuram médiuns suficientemente crédulos para aceitá-las de olhos fechados, fascinando-os para impedir qualquer discernimento do verdadeiro e do falso. São os mais perigosos porque não vacilam em sofismar e podem impor as mais ridículas utopias. Conhecendo o prestígio dos nomes famosos não têm escrúpulo em enfeitar-se com eles e nem mesmo recuam ante o sacrilégio de se dizerem Jesus, a Virgem Maria ou um santo venerado. Procuram fascinar por uma linguagem empolada, mais pretensiosa do que profunda, cheia de termos técnicos e enfeitada de palavras grandiosas, como Caridade e Moral. Evitam os maus conselhos, porque sabem que seriam repelidos, de maneira que os enganados os defendem sempre, afirmando: Bem vês que nada dizem de mau. Mas a moral é para eles apenas um passaporte, é o de que menos cuidam. O que desejam antes de mais nada é dominar e impor as suas idéias, por mais absurdas que sejam. (1)

Como já dissemos, o fascinado recebe geralmente muito mal os conselhos. A crítica o aborrece, irrita e faz embirrar com as pessoas que não participam da sua admiração. Suspeitar do seu obsessor é quase uma profanação, e é isso o que o Espírito deseja, que se ponham de joelhos ante as suas palavras.

As imperfeições morais do obsedado são frequentemente um obstáculo à sua libertação. Só podemos dar aqui alguns conselhos gerais, porque não há nenhum processo material, nenhuma fórmula, sobretudo, nem qualquer palavra sacramental que tenham o poder de expulsar os Espíritos obsessores. O que falta em geral ao obsedado é força fluídica suficiente. Nesse caso a ação magnética de um bom magnetizador pode dar-lhe uma ajuda eficiente. A subjugação corpórea tira quase sempre ao obsedado as energias necessárias para dominar o mau Espírito. É por isso necessária à intervenção de uma terceira pessoa, agindo por meio do magnetismo ou pela força da sua própria vontade. Na falta do concurso do obsedado, essa pessoa deve conseguir ascendente sobre o Espírito. Além disso, é sempre bom obter, por um médium de confiança, os conselhos de um Espírito superior ou do seu anjo da guarda. Como não há pior cego do que o que não quer ver, quando se reconhece a inutilidade de todas as tentativas para abrir os olhos do fascinado, o melhor que se tem a fazer é deixá-lo com as suas ilusões. Não se pode curar um doente que se obstina na doença e nela se compraz.

Regra geral: quem quer que receba más comunicações espíritas, escritas ou verbais, está sob má influência; essa influência se exerce sobre ele, quer escreva ou não, isto é, seja ou não médium, creia ou não creia. A escrita oferece-lhe um meio de assegurar da natureza dos Espíritos em ação e de os combater, se forem maus, o que se consegue com maior êxito quando se chega a conhecer os motivos da sua atividade. Se a sua cegueira é bastante para não lhe permitir a compreensão, outros poderão lhe abrir os olhos.

Em resumo: o perigo não está no Espiritismo, desde que este pode, pelo contrário, servir-nos de controle e preservar-nos do risco incessante a que nos expomos sem saber. Ele está na orgulhosa propensão de certos médiuns a se considerarem muito levianamente instrumentos exclusivos dos Espíritos superiores, e na espécie de fascinação que não lhes permite compreender as tolices de que são intérpretes. Mas mesmo os que não são médiuns podem se deixar envolver.

* * *

(1) Muitas pessoas aceitam com facilidade as comunicações assinadas por Jesus, Maria, João, Paulo e outras figuras exponenciais da Religião e da História, esquecidas das advertências doutrinárias. Mensagens com assinaturas dessa espécie são sempre suspeitas, pois Espíritos que habitualmente se comunicam conosco são, pela própria lei de afinidade, mais próximos de nós. (N. do T.)


Fonte: O Livro dos Médiuns – Allan Kardec
(Cap. 23 – Da Obsessão)
Tradução: José Herculano Pires
Fonte: Revista Espírita, 1866 – Allan Kardec

8 comentários:

www.eucreionoespiritismo.xpg.com.br disse...

Parabéns pelo blog, gostaria de deixar uma contribuição com um trecho de "O Livro dos Médiuns":
A subjugação corpórea, em seu desenvolvimento, poderia levar à loucura?
-
Sim, a uma espécie de loucura cuja causa é desconhecida do mundo, mas que não tem relação com a loucura ordinária. Entre os que são tratados como loucos há muitos que são apenas subjugados. Necessitariam de um tratamento moral, enquanto os tornam loucos verdadeiros com os tratamentos corporais. Quando os médicos conhecerem bem o Espiritismo, saberão fazer essa distinção e curarão maior número de doentes do que o fazem com as duchas.

Estrela disse...

Olá,
Boa noite!
Gostaria de saber mais sobre obsessão.
Exitem algum livro que vcs possa me indicar?
Bjs no coração (*_*) Juliana

Curso de Introdução ao Espiritismo disse...

Existem vários livros sobre o assunto.
Um dos que aconselho é a absessão e suas máscaras, mas antes disso aconselho a ler Livro dos Espiritos com atenção, ele poderá ser de uma grande ajuda.

Curso de Introdução ao Espiritismo disse...

Em breve indicarei outros temas.
Pedro

Fabricio-SP disse...

Olá gostaria de saber se posso ir a qualquer centro me curar de obssessão?

Unknown disse...

boa noite presciso de ajuda pro meu filho q esta sendo tratado pelos medicas pra esquisofrenia mas eu nao acredito pois ele ouve uma voz que manda ele tirar a sua vida ja se cortou 4 veses me ajudem por favor ja nao sei mais oq faser

Unknown disse...

meu filho lucas esta sendo tratado pra esquisofrenia mas eu acho q esta sendo obsediado pois a voz manda ele tirar a sua vida ja se cortou 4 veses me ajudem

Neneu disse...

Eu preciso muito de ajuda pra uma pessoa muito amiga que está sendo constantemente vítima de obssessão.Queria que vc's me ajudassem a livra-la deste mau pelo o amor de Deus.